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Satyarthi ganha o Nobel da Paz por trabalho contra exploração infantil

Kailash Satyarthi lidera a organização Global March Against Child Labor, um conjunto de 2 mil grupos sociais presente em 140 países

Agência France-Presse
postado em 10/10/2014 10:18
O indiano falou com a imprensa assim que recebeu a notícia da premiação
O indiano Kailash Satyarthi, premiado nesta sexta-feira (10/10) com o Nobel da Paz ao lado da paquistanesa Malala Yousafzai, já ajudou dezenas de milhares de crianças que eram tratadas como escravos por empresários e donos de terra a recuperar a liberdade.

Nascido em 11 de janeiro de 1954, Satyarthi está na linha de frente, há 30 anos, nas ações contra o trabalho e a exploração infantis em seu país, onde a prática é comum.

Satyarthi, natural do estado indiano de Madhya Pradesh e engenheiro de formação, lidera a organização Global March Against Child Labor (Marcha Global contra o trabalho Infantil), um conjunto de 2 mil grupos sociais presente em 140 países.

O vencedor do Nobel da Paz vive de maneira modesta e sempre manteve a discrição, inclusive em seu país. "Agradeço ao comitê Nobel por este reconhecimento do sofrimento de milhões de crianças", disse o premiado, antes de afirmar que estava "encantado" com a notícia, segundo a agência Press Trust of India (PTI). Ele atribuiu sua vitória à "viva e vibrante" democracia da Índia.

Ao falar sobre a organização Global March Against Child Labor, Satyarthi celebrou: "Algo que nasceu na Índia cresceu e agora é um movimento mundial contra o trabalho infantil", declarou.

Tráfico de famílias

Satyarthi iniciou o trabalho social com denúncias contra as fábricas e empresas que utilizam o trabalho de menores de idade. Ele conseguiu libertar famílias inteiras que eram obrigadas a trabalhar para pagar empréstimos. Exploradas e incapazes de pagar as dívidas, as famílias são geralmente vendidas para outros patrões.

[SAIBAMAIS]O ativista também convocou várias manifestações não violentas contra a exploração infantil, seguindo a "tradição de Gandhi", como destacou o comitê Nobel ao justificar o prêmio. Em 2007, Satyarthi organizou uma passeata de milhares de quilômetros contra o tráfico de crianças ao longo da fronteira da Índia com os vizinhos asiáticos.

O presidente do comitê Nobel norueguês, Thorbjoern Jagland, recordou que, segundo cálculos, 168 milhões de crianças trabalham no mundo atualmente. "Em 2000 eram 78 milhões a mais. O mundo se aproxima do objetivo de erradicar o trabalho infantil", disse Jagland. "O trabalho infantil é ilegal e imoral", afirma o próprio Satyarthi no site de sua organização.

"Se não agora, então quando? Se não você, então quem? Se somos capazes de responder a estas perguntas fundamentais, então talvez possamos acabar com a mácula da escravidão humana", afirma Satyarthi.


O ativista também fundou a RugMark, organização muito conhecida no cenário internacional que "etiqueta" os tapetes produzidos no país sem o uso de trabalho infantil. Satyarthi afirma que sua consciência social despertou quando, aos sete anos, viu uma criança de sua idade, na porta do colégio, ajudando o pai a lustrar sapatos.

Ao observar muitas crianças trabalhando, ao invés de frequentar a escola, Satyarthi percebeu que era urgente resolver o problema, o que o estimulou a abraçar a causa.

Ao premiar Satyarthi e Malala, de 17 anos, o Comitê Nobel fez um elogio ao combate de ambos contra a exploração das crianças e dos jovens, além de ressaltar o direito de todas as crianças à educação.

O próprio premiado encara desta maneira a sua missão, como contou em uma entrevista recente ao Centro Kennedy: "É como um teste. É um exame moral que temos que superar, o de nos opormos a tais injúrias sociais".

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