Agência France-Presse
postado em 10/10/2014 16:36
Madri - O temor se espalhava pelo mundo diante da propagação do vírus Ebola, que já matou mais de 4.000 pessoas, enquanto a Espanha, onde ocorreu a primeira infecção fora da África, reforçava nesta sexta-feira a gestão de um momento "complexo e difícil". Diante de uma enorme expectativa midiática, o chefe de governo espanhol, o conservador Mariano Rajoy, visitou o hospital madrilense La Paz-Carlos III, onde está internada Teresa Romero.Esta auxiliar de enfermagem de 44 anos, que na segunda-feira se tornou o primeiro caso de contágio fora do continente africano, após cuidar de dois missionários espanhóis repatriados em agosto e setembro, se encontrava em estado grave, porém estável, segundo uma porta-voz do hospital. "Tem muita gente que está trabalhando aqui em um momento que, como sabemos, é complexo e difícil", disse Rajoy na porta do hospital, dizendo-se "absolutamente convencido" de que será feito "tudo aquilo que for necessário" para superar a crise.
Ao mesmo tempo, sua número dois, Soraya Sáenz de Santamaría, anunciava "a criação de um comitê especial" com representantes de vários ministérios para gerenciar na Espanha uma doença cujo número de vítimas, a imensa maioria na África, não para de crescer. Desde o começo do ano até 8 de outubro, a epidemia da febre hemorrágica infectou 8.399 pessoas e matou 4.033, principalmente na Libéria, Serra Leoa e Guiné, segundo o balanço mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Neste último país - de onde partiu o caso suspeito que está em acompanhamento no Brasil -, o principal centro de tratamento da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) está perto da "saturação". Na Libéria, os funcionários da saúde iniciaram uma greve nesta sexta-feira para reivindicar o pagamento de insalubridade. E até na selva congolesa, os moradores alteraram dieta e costumes, temendo a epidemia.
Após descobrir um segundo caso de contaminação em uma semana entre seus funcionários na Libéria, as Nações Unidas puseram em quarentena 41 de seus agentes no país, enquanto em sua sede, em Nova York, a organização anunciou que só conseguiu arrecadar 25% dos US$ 1 bilhão que pretendia investir na luta contra a epidemia.
O medo se espalha
Enquanto isso, o temor do vírus se espalhava pelo mundo. No Brasil, o guineano Souleymane Bah, de 47 anos, que chegou em 19 de setembro procedente de Conacri, era avaliado nesta sexta-feira no Instituto Nacional de Infectologia Carlos Chagas, no Rio de Janeiro, para onde foi levado de Cascavel, no Paraná, onde foi atendido com queixa de quadro febril. Ele teve amostras de sangue coletadas e enviadas para um laboratório de referência no Pará.
Diante desta situação, o vizinho Peru intensificou seu plano de prevenção sanitária, inclusive com simulações de tratamento, e o Uruguai reforçou os controles em portos e aeroportos. Assim como no México, que decidiu vigiar os pontos de trânsito de emigrantes em sua fronteira com os Estados Unidos, a migração clandestina também preocupava a Nicarágua, cujo governo decidiu aplicar medidas de proteção extra em pontos de trânsito de imigrantes ilegais.
Em Nova York, 200 funcionários da limpeza de aviões declararam brevemente uma paralisação na quarta-feira no aeroporto de La Guardia, preocupados com os riscos que poderiam correr. Na Europa, as bolsas despencaram nesta sexta, liderada pela de Frankfurt, que recuou 2,4%, também influenciada pelo temor provocado por um estancamento da economia alemã.
Em um subúrbio de Paris, um prédio público foi totalmente fechado durante uma hora e meia na quinta-feira, devido a um alarme falso, depois que um jovem africano, que veio da Guiné, passou mal. Em Londres, decidiu-se reforçar os testes de Ebola nos dois aeroportos da cidade e no terminal ferroviário de alta velocidade europeu.
Nesta sexta-feira (10/10), a ministra espanhola da Saúde, Ana Mato, anunciou uma revisão nos protocolos de segurança, entre eles uma redução do limite da febre de controle para 37,7; no lugar de 38,6;, vigente até agora, enquanto várias pessoas que estiveram em contato com a enfermeira espanhola Teresa Romero pediam para ser internadas voluntariamente, apesar de não apresentar os sintomas.
"Qualquer pessoa que tenha estado em contato com um doente de Ebola está inquieta porque não se pode saber se algo deu errado", explicou à AFP, em Madri, uma enfermeira que trabalhou com o primeiro missionário repatriado da África.
Segundo Elvira González, do sindicato madrilense de técnicos de enfermagem, "tem havido muitas renúncias" entre os funcionários do La Paz-Carlos III por considerar que dispõem de material e formação insuficientes. Nem o hospital, nem o ministério da Saúde quiseram confirmar a informação.
"Há uma investigação aberta sobre as possíveis falhas que podem ter ocorrido", afirmou Mato. "Estaremos trabalhando 20 horas por dia, 24 se for necessário (...), para que isto não volte a acontecer no nosso país", assegurou a ministra.