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Estado Islâmico toma QG curdo em cidade síria e ONU teme massacre

Progressão do grupo radical não foi contida pelos ataques da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, insuficientes para salvar a cidade

Agência France-Presse
postado em 10/10/2014 19:46
Suruc - O grupo Estado Islâmico tomou nesta sexta-feira (10/10) o quartel-general das forças curdas em Kobane e se aproximou da fronteira com a Turquia, enquanto a ONU alertou para um "massacre" se a cidade síria cair em poder dos extremistas.

Depois de sua entrada nesta cidade estratégica curda do norte da Síria na segunda-feira (6/10), o EI tomou 40% da região e está a cerca de um quilômetro da fronteira com a Turquia.

A progressão do grupo radical não foi contida pelos ataques da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, insuficientes para salvar a cidade.

De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), os jihadistas invadiram o QG curdo nesta sexta-feira (10/10) no norte de Kobane, derrotando combatentes em menor número e com menos armas.

"Eles assumiram o controle do ;centro de segurança;", que abriga o complexo militar das Unidades de Proteção do Povo (YPG, principal milícia curda síria), a sede do conselho local e a base dos Assayech (forças de segurança curdas), de acordo com a ONG, indicando que os ataques da coalizão atingiram quatro posições nesse setor.

Ainda na mesma área, o EI cometeu um atentado suicida, matando dois combatentes curdos, segundo a mesma fonte.

Os jihadistas se aproximam cada vez mais do posto fronteiriço na divisa com a Turquia, que eles querem tomar com o objetivo de cercar totalmente a cidade.

Centenas de civis no meio do fogo cruzado

No lado turco da fronteira, uma jornalista da AFP ouviu disparos de armas automáticas e de morteiros e viu colunas de fumaça sobre a cidade.

Em Genebra, o emissário especial da ONU para a Síria, Staffan De Mistura, disse que teme um "massacre" semelhante ao de Srebrenica, na antiga Iugoslávia, onde milhares de civis bósnios muçulmanos foram mortos por militares e paramilitares sérvios.

Segundo De Mistura, até 700 civis ainda estão no centro da cidade, a maioria idosos, e de 10 a 13.000 estão reunidos perto da fronteira. Se a cidade cair, esses civis serão "provavelmente massacrados", alertou.

Ele também pediu que a Turquia "autorize a passagem de voluntários para a cidade para que ajudem em sua autodefesa", referindo-se a muitos curdos turcos que querem se juntar aos combatentes na Síria.

Mas o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, entrevistado pelo canal France 24, considerou que enviar civis para a guerra é "um crime".

O líder do principal partido político curdo da Síria fez um apelo para que a Turquia de libere a passagem de armas.

"Seria ótimo que a fronteira fosse aberta o mais rápido possível para a passagem de armas", declarou à AFP Salih Muslim, presidente do Partido da União Democrática (PYD).

Combatentes aos prantos

Mas em uma entrevista à rede de televisão Al-Mayadeen, com sede em Beirute, ele se opôs categoricamente a uma entrada do Exército turco em Kobane, que teria as características de uma "ocupação".

De acordo com Mustafa Ebdi, um militante curdo que transita por ambos os lados da fronteira, as forças curdas, cada vez mais desesperadas, estão com as munições no final e querem mais ataques contra o grupo extremista.

"Alguns combatentes vêm até a mim chorando", disse ele, explicando que os jihadistas tentam enganar os aviões da coalizão, "exibindo bandeiras curdas em seus veículos".

A Turquia também é alvo de pressões de Washington para se envolver na luta contra os jihadistas. O governo americano enviou na quinta e nesta sexta-feira (10/10) para Ancara o chefe da coalizão internacional, o general da reserva John Allen.

"A Turquia concorda em apoiar os esforços para treinar e equipar a oposição síria moderada", declarou a porta-voz do Departamento de Estado, Marie Harf.

Ancara condiciona sua participação na luta contra o EI à criação de uma zona-tampão, visando a proteger os setores em poder da rebelião moderada contra o regime sírio e a população que foge da guerra. Mas essa proposta não está na ordem do dia para Washington e a Otan.

Os Estados Unidos receberão na semana que vem uma reunião dos chefes militares da coalizão.

Aproveitando-se da guerra civil que devasta a Síria há mais de três anos,o ;EI tomou amplas faixas territoriais no norte e no leste do país.

O grupo extremista, com dezenas de milhares de homens, também controla grandes partes do vizinho Iraque, onde executou treze pessoas nesta sexta, incluindo um jornalista iraquiano.

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