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Candidatos nacionalistas saem à frente em disputa eleitoral na Bósnia

Cerca de 3,3 milhões de bósnios foram chamados a escolher os três membros (sérvio, croata e muçulmano) da presidência colegiada do país

Agência France-Presse
postado em 12/10/2014 21:00
Saravejo - Os candidatos nacionalistas das principais comunidades da Bósnia (muçulmana, sérvia e croata) estavam bem cotados para levar a presidência colegiada tripartite do país após as eleições gerais deste domingo - segundo resultados parciais oficiais anunciados pela Comissão Eleitoral Central.

Segundo os resultados dos votos apurados em mais de 50% das seções eleitorais, entre os muçulmanos o candidato do partido nacionalista (SDA), Bakir Izetbegovic, liderava o pleito.

Entre os sérvios, a candidata do partido SNSD, atualmente no poder, Zeljka Cvijanovic, era a melhor colocada. Entre os croatas, o líder nacionalista Dragan Covic estava à frente.

O líder muçulmano, confiante na vitória de seu partido, garantiu, pouco depois do anúncio dos resultados, que sua formação seria "impreterível" para quaisquer futura coalizão governamental.

Os bósnios foram às urnas neste domingo para votar nas eleições gerais - marcadas por um contexto de forte crise e de grande retórica nacionalista e separatista.

Cerca de 3,3 milhões de bósnios foram chamados a escolher os três membros (sérvio, croata e muçulmano) da presidência colegiada do país.

Também será renovado o parlamento central e as assembleias legislativas das entidades que formam esta república federal: uma sérvia e outra croata-muçulmana.

Os resultados parciais da votação deverão ser anunciados durante esta segunda-feira.

O analista político Enver Kazaz explicou à AFP que as novas autoridades deverão "enfrentar um grande descontentamento social".

"A crise social é cada vez maior, o número de desempregados aumenta. Todas as condições para um caos social estão reunidas", disse o analista.

A Bósnia, um dos países mais pobres da Europa, conta com 18% de habitantes que vivem em extrema pobreza. No final de fevereiro, o país se viu sacudido por uma explosão social inédita desde o final da guerra civil em 1995 para denunciar essa ferida e a corrupção.

As graves inundações produzidas três meses depois provocaram danos avaliados em 2 bilhões de euros, o que representa 15% do PIB. Para 2014, o Banco Central da Bósnia espera um crescimento econômico de menos de 1%.

O desemprego afeta 44% da população ativa do país, que conta com 3,8 milhões de habitantes e onde o salário médio mensal é de 415 euros (cerca de R$ 1.400).

"O governo que está saindo só trabalhou em benefício próprio. Não fez nada pelo povo. Os desempregados têm fome, os operários têm fome", denuncia Hamza Rozajac, um desempregado de Sarajevo.

Além dos problemas econômicos, a Bósnia tenta aderir sem sucesso à União Europeia, graças às contínuas disputas políticas baseadas em critérios étnicos.

O acordo de paz de 1995 em Dayton (Estados Unidos), que pôs fim à guerra civil bósnia (1992-95), dividiu o país em duas entidades - sérvia e croato-muçulmana-, vinculadas por um frágil governo central.

Apesar da pressão internacional, Sarajevo não adotou nenhuma das reformas solicitadas pela UE, como uma reforma da Constituição, que o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou, em 2009, discriminatória contra as comunidades judaicas e ciganas.

Como ocorre a cada quatro anos, quando a votação se aproxima, os nacionalistas sérvios multiplicam as ameaças de secessão de sua entidade.

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"O objetivo da minha política é transformar nossa entidade em um Estado", disse o presidente em fim de mandato da República Sérvia, Milorad Dodik, que aspira um segundo mandato respaldado por seu partido (SNSD), enquanto os líderes muçulmanos levantam a voz para dizer que seu objetivo é reforçar antes de tudo "o Estado central".

Para o sociólogo Ivan Sijakovic, este tipo de declaração representa "uma fórmula já testada entre os eleitores e uma manipulação", que poderia levar mais uma vez à vitória dos nacionalistas.

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