postado em 21/10/2014 09:54
Estudantes e representantes do governo de Hong Kong se reúnem nesta terça-feira (21/10) pela primeira vez depois de mais de três semanas de protestos pró-democracia, marcando o início de um diálogo que poucos acreditam poder pôr fim à atual crise. As mais recentes declarações do chefe do Executivo da Região Administrativa Especial chinesa, Leung Chun-ying, de que eleições totalmente livres seriam impossíveis, não satisfazem as exigências dos manifestantes.Desde 28 de setembro, data em que começou a campanha para pedir a instauração de sufrágio universal, o cotidiano na antiga colônia britânica foi alterado, com os manifestantes ocupando algumas das principais ruas da cidade, incluindo a área próxima à sede do governo, em Admiralty, e o distrito de Mong Kong, na península de Kowloon, onde têm sido registrados atos de violência e de repressão policial.
Os manifestantes reivindicam a demissão de Chun-ying e a instauração do pleno sufrágio universal no território semiautônomo, que vive a mais grave crise política desde a transferência de soberania para a China, em 1997.
A China aceitou o princípio do sufrágio universal para a eleição do próximo chefe do Executivo em 2017, mas só depois de os candidatos serem pré-selecionados por um comitê eleitoral que controla as candidaturas.
[SAIBAMAIS]O encontro entre governo e estudantes para debater a reforma constitucional está agendado para a noite de hoje. Mas poucos observadores estimam que Pequim, que receia a ampliação do movimento democrático a outras regiões do país, ceda a qualquer exigência.
;Estou bastante preocupada;, disse Claudia Mo, deputada pró-democrata. ;Se [o debate] se tornar um espetáculo político, as pessoas vão dizer que é preciso voltar a sair à rua;.
;As pessoas não estão otimistas;, disse o analista político e militante pró-democracia Joseph Cheng. ;Ninguém do campo pró-democrata espera que Pequim faça a menor concessão;, acrescentou.
A situação poderá piorar, considerou Surya Dev, professor de direito na City University de Hong Kong. ;Como é que as pessoas de Hong Kong podem acreditar em um Estado de Direito se não há nenhuma esperança de autonomia política e econômica?;
Nas duas primeiras semanas de protestos, após o uso pela polícia de gás lacrimogêneo contra os manifestantes, a mobilização pró-democracia foi amplamente pacífica. Mas as tensões aumentaram nos últimos dias quando a polícia desbloqueou algumas vias de circulação.
Em entrevista aos jornais Wall Street Journal e The New York Times, cujo conteúdo foi tornado público poucas horas antes do início das negociações com os estudantes, o chefe do Executivo de Hong Kong disse que as livres candidaturas não eram possíveis no país. Se fosse esse o caso, defendeu, o processo eleitoral seria dominado pelos mais pobres.
Ele sustentou que as negociações podem prolongar-se: ;Uma série de negociações poderá não ser suficiente para resolver todos os problemas, mas poder ter discussões constitui um bom ponto de partida;.
Os manifestantes, muito jovens em sua maioria, estão preocupados quanto ao futuro político e econômico, no momento em que crescem as desigualdades sociais na antiga colônia britânica. Quase 20% dos 7 milhões de habitantes de Hong Kong, o equivalente a 1,31 milhão de pessoas, vivem abaixo do limiar de pobreza, segundo dados oficiais.