Agência France-Presse
postado em 24/10/2014 17:26
Bruxelas- O Reino Unido não tem intenção de pagar os 2,1 bilhões de euros cobrados por Bruxelas, afirmou nesta sexta-feira (24/10) o primeiro-ministro David Cameron, manifestando sua revolta com a reavaliação da contribuição britânica."Não vou pagar esta fatura em 1; de dezembro", afirmou Cameron em uma coletiva de imprensa em Bruxelas, ao final da cúpula dos líderes da UE. "Estou revoltado", acrescentou, anunciando que os ministros da Economia europeus terão uma reunião de emergência para tratar do assunto.
A Comissão Europeia reavaliou as contribuições de Londres e Amsterdã como resultado de seu crescimento econômico e de novos parâmetros para o cálculo do PIB, que incluem atividades da economia informal, como o tráfico de drogas e a prostituição.
Bruxelas pede ao governo britânico uma contribuição adicional ao orçamento comunitário de 2,1 bilhões de euros e ao governo holandês, de 642 milhões. Em troca, foram reduzidas as contribuições da Espanha, de 168,9 milhões; da França, de 1,27 bilhão e da Alemanha, de 779 milhões de euros.
A notícia deve ser mal recebida pela opinião pública britânica, particularmente eurocética. De olho nas eleições gerais de 2015, Cameron prometeu recuperar os poderes concedidos à UE no passado e convocar um referendo sobre a permanência do Reino Unido no bloco em 2017.
"A economia britânica está crescendo mais rápido do que as outras e a mesma lógica é aplicada aos impostos: se alguém ganhar mais, paga mais", disse à AFP o porta-voz da Comissão Patrizio Fiorelli.
Jeroen Dijsselbloem, ministro da Economia holandês e atual presidente do Eurogrupo -instância que reúne os titulares das Finanças dos 18 países da zona do euro-, disse que a nova contribuição "é uma surpresa muito desagradável". "Fizemos uma provisão para o ano que vem porque esperamos um aumento do Produto Interno Bruto e, em consequência, uma contribuição mais elevada à UE. Mas agora estão nos falando de uma revisão", queixou-se Dijsselbloem.
O ministro holandês acabou criticando o modo como tomou conhecimento do aumento da contribuição com o orçamento da UE. "O anúncio da Comissão é curiosa. Publicam uma tabela na internet sem avisar os Estados-membros. Não estamos satisfeitos", disse o holandês.
Mas o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, explicou que se trata de um exercício anual "adotado por unanimidade" por todos os Estados-membros e baseado "em estatísticas transmitidas pelos Estados-membros para garantir que cada membro contribuirá no nível que lhe corresponde". "É um exercício em que às vezes se pede para que alguns países contribuam mais e outros recebam dinheiro", acrescentou".
Esperando um plano de investimentos
O outro tema que preocupa ambiente europeu, no momento em que se teme uma nova recessão no continente, é o desafio de Paris e de Roma às rígidas regras sobre déficit público, que seus novos orçamentos não respeitam. A questão será discutida pelos líderes dos 18 países da zona do euro que se reuniram após a cúpula da UE.
O presidente do Conselho italiano, Matteo Renzi, criticou a Comissão na quinta-feira, ao publicar a carta que recebeu da entidade em que é indicado um "desvio significativo" da lei fiscal italiana, pedindo uma retificação.
A Comissão, que vela pelo respeito às regras europeias que estipulam um déficit público de no máximo 3% e uma dívida de 60% do PIB, pode pedir a vários países da zona do euro que revisem suas leis fiscais nas próximas semanas.
O presidente do Conselho, Herman Van Rompuy, afirmou que os esforços pedidos à França, como aos demais países, são "esforços adicionais, e não se fala de uma austeridade muito grande".
Os líderes discutiram a situação econômica e do mercado de trabalho, que "continua sendo a máxima prioridade". Manifestaram sua "decepção" com os últimos dados econômicos que evidenciam uma desaceleração do crescimento do PIB, suscitando temores de uma nova recessão.
Segundo as conclusões, os chefes de Estado afirmaram que para "fundar as bases de uma recuperação econômica forte e duradoura" a UE deve investir. Contam para isso com um plano de investimentos de 300 bilhões de euros prometido pela nova Comissão Europeia, um pacote que mantém no limbo os países com mais necessidades.