Agência France-Presse
postado em 25/10/2014 14:19
Bamako - O presidente do Mali prometeu neste sábado (25/10) fazer o possível para evitar a propagação do vírus ebola no país, após a descoberta do primeiro caso, de uma menina originária da Guiné, um dos principais focos da epidemia.O caso fez com que mais de 50 pessoas fossem colocadas em quarentena, incluindo uma dezena na capital Bamako, segundo o porta-voz do ministério da Saúde do Mali.
A doença continua a progredir no oeste africano e em outras partes do mundo, com um total de 10.141 casos registrados em oito países, incluindo 4.922 mortes, de acordo com o mais recente balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado neste sábado.
Nos Estados Unidos, os governadores dos estados de Nova York e Nova Jersey ordenaram na sexta-feira quarentena obrigatória a todos aqueles que tiveram contato com pessoas contaminadas pelo vírus ebola na África Ocidental, após um primeiro caso confirmado em um médico em Nova York.
Neste sábado, a enfermeira americana Kaci Hickox, a primeira pessoa a entrar na quarentena compulsória após trabalhar para a organização Médicos Sem Fronteiras, cuidando de doentes de ebola em Serra Leona, fez um sarcástico relato sobre o tratamento que recebeu após ser colocada em isolamento nos Estados Unidos.
Ela chegou no aeroporto internacional Libery, de Newark, procedente do país do oeste da África, duramente atintido pela epidemia.
"Esta não é uma situação que eu deseje para ninguém, estou assustada por aqueles que virão depois de mim", relatou Hickox em artigo publicado no The Dallas Morning News.
"Fico assustada em pensar como os trabalhadores de saúde serão tratados nos aeroportos, quando declararem que estiveram combatendo o ebola no oeste da África. Temo que, assim como eu, ao chegarem, eles vejam um frenesi de desorganização, medo e, mais assustador, quarentena".
Hickox será monitorada em um hospital de Nova Jersey por 21 dias, o período máximo de incubação do ebola. Ela contou que ao chegar não tinha quaisquer sintomas da doença.
Na sexta-feira, o Mali se juntou à lista de países afetados pela epidemia de febre hemorrágica, com a morte de uma menina de dois anos, que retornou ao país de ônibus em 19 de outubro depois de ter passado uma temporada com a avó em Kissidougou, no sul da Guiné, uma região particularmente afetada pelo vírus.
"O nariz começou a sangrar quando elas ainda estavam na Guiné, o que significa que a criança já apresentava sintomas do vírus durante a sua viagem ao Mali", onde chegou em Kayes, no oeste, em transporte público, depois de uma viagem de mais de 1.00O km, indicou a OMS em um relatório.
"Vamos fazer de tudo para evitar a psicose, o pânico", declarou o chefe de Estado do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, em entrevista à Radio France Internationale e Le Monde antes da morte da menina.
"Desde o início da epidemia, nós adotamos no Mali todas as medidas para nos proteger, mas é impossível nos fechar hermeticamente a este mal. A Guiné é um país vizinho do Mali, temos uma fronteira comum que não fechamos, e que não fecharemos", acrescentou.
Quarentena obrigatória
Ibrahim Boubacar Ke;ta evocou principalmente "controles de temperatura" nos aeroportos do país.
Por sua vez, a OMS anunciou na sexta-feira que "considera a situação no Mali como uma urgência, uma vez que o estado de saúde da criança durante o trajeto de ônibus era particularmente preocupante, porque apresentou em várias ocasiões exposição de alto risco a um grande número de pessoas".
"Uma investigação preliminar identificou 43 contatos diretos e desprotegidos, incluindo 10 de pessoas da saúde, que estão sendo acompanhadas em isolamento", segundo um comunicado da OMS.
A organização elogiou "a reação rápida das autoridades do Mali" e a presença no país de equipe de organização e de Centros Federais Americanos de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) para preparar o país a um eventual caso proveniente dos países vizinhos atingidos.
A Mauritânia anunciou um reforço do controle na fronteira com o Mali.
Na Costa do Marfim, na fronteira com a Guiné e Serra Leoa, que conseguiu até o momento escapar dessa contaminação, um cuidador guineense potencialmente contaminado entrou no país ilegalmente e está sendo procurado.
Testes em vacinas serão realizados se possível em dezembro nos três países africanos mais afetados (Libéria, Guiné, Serra Leoa), segundo anunciou em Genebra a Dra. Marie-Paule Kieny, vice-diretora-geral da OMS.
Se forem bem sucedidos, centenas de milhares de doses de vacinas poderão ser enviadas para a África Ocidental até o final de 2015, segundo Kieny.
Outros testes estão em andamento nos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Mali, e novos devem começar em breve na Suíça e na Alemanha, acrescentou.
Nos Estados Unidos, enquanto as duas enfermeiras infectadas no Texas foram declaradas curadas, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, anunciou o primeiro caso de ebola na megalópole, de um médico que retornou recentemente da Guiné, onde trabalhou com Médicos Sem Fronteiras (MSF) e tratou de pacientes com ebola.
Esse anúncio resultou em uma quarentena obrigatória nos estados de Nova York e Nova Jersey para os viajantes que tiveram contato com pacientes de ebola na África Ocidental, uma disposição que vai além das diretrizes federais.
"A auto-quarentena não é suficiente", explicou o governador de Nova York, Andrew Cuomo. "Este é um problema muito sério de saúde pública", acrescentou em uma entrevista coletiva.