Agência France-Presse
postado em 25/10/2014 19:06
Mursitipinar - Os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) realizaram, neste sábado (25/10), um novo ataque em direção à fronteira com a Turquia, ao norte de Kobane, cidade síria defendida ferozmente pelos curdos, que aguardam reforços do Curdistão iraquiano.Os extremistas, posicionados perto da fronteira com a Turquia, "fizeram disparos de artilharia pesada em direção a fronteira", e pelo menos "quatro morteiros caíram do lado turco", informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que se baseia em uma vasta rede de observadores em todo o país.
Nesta sexta-feira à noite, intensos combates foram retomados nas ruas da cidade, sitiada pelos radicais desde 16 de setembro.
Apesar de estarem em menor número e com armas inferiores às dos jihadistas, as forças curdas resistem, mas a chegada de cerca de 1.000 rebeldes do Exército Sírio Livre (ESL), anunciada na sexta-feira por Ancara, é cada vez mais incerta, após líderes curdos sírios garantirem não existir nenhum acordo nesse sentido.
O reforço que parece confirmado é de cerca de 150 peshmergas (combatentes curdos iraquianos), que chegarão na semana que vem através da Turquia.
Ancara concordou em permitir a passagem dos combatentes curdos iraquianos, mas ainda se recusa a deixar que os curdos de outras nacionalidades venham para ajudar as milícias curdas da Síria, considerando-os "terroristas" ligados ao PKK, o partido curdo turco que, desde 1984, realiza uma insurgência separatista.
Em todo caso, a oposição síria considera necessário abrir outras frentes de combate contra os jihadistas no país, para afrouxar o cerco a Kobane.
As forças curdas no terreno recebem ajuda, desde o fim de setembro, de uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, que, desde 8 de agosto, realizou mais de 600 ataques aéreos e lançou mais de 1.700 bombas.
Segundo os Estados Unidos, a coalizão lançou 22 ataques aéreos entre a sexta-feira e o sábado no Iraque, entre eles 11 perto da represa de Mossul (norte), a maior do país, que as forças curdas e iraquianas conseguiram retomar dos jihadistas em agosto.
O presidente francês, François Hollande, afirmou na sexta-feira que Paris ia "acelerar o ritmo de suas ações" contra o EI no Iraque. Segundo o ministério da Defesa, a França bombardeou alvos no país pelo segundo dia consecutivo.
No Iraque, o EI vence o jogo
No Iraque, são os jihadistas que vencem atualmente a partida, apesar do apoio aéreo internacional.
Oito soldados iraquianos morreram hoje combatendo jihadistas ao sul de Bagdá, anunciaram autoridades iraquianas, quando as tropas tentavam garantir a passagem de milhares de peregrinos xiitas.
Os peregrinos que celebram a festa da Ashura costumam ser alvos frequentes de atentados, mas este ano, com as forças do EI dominando grande parte do país, as celebrações podem se tornar uma sentença de morte para muitos.
No norte, o EI voltou a sitiar o Monte Sinjar, onde centenas de civis da minoria yazadi se refugiaram em agosto. No sul, o grupo radical assumiu o controle de uma nova área na província de Al-Anbar, a oeste de Bagdá, e tem quase toda a província sob seu domínio.
Além disso, há uma crescente preocupação com o possível uso de armas químicas pelos jihadistas.
O jornal "Washington Post" revelou que vários policiais iraquianos teriam sido internados no mês passado com sintomas de envenenamento. O secretário de Estado americano, John Kerry, disse que "os Estados Unidos levam a sério" as acusações de que o EI poderia ter usado gás de cloro.
As tropas iraquianas sofrem numerosas carências, com o despreparo e o alto número de deserções em suas fileiras, a ponto de o governo iraquiano oferecer anistia aos desertores que retornarem ao Exército.
Para suprir a falta de formação, o secretário de Estado americano, John Kerry, sugeriu, dias atrás, que a Rússia poderia enviar instrutores para formar os militares iraquianos, mas Moscou negou hoje esta informação.
"Não há nenhum acordo, mediante o qual enviaríamos instrutores para formar o exército iraquiano", declarou o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.
O presidente russo, Vladimir Putin, acusou ontem os Estados Unidos de serem parcialmente responsáveis pelos êxitos do EI, uma vez que a intervenção de Washington no Iraque levou antigos soldados de Saddam Hussein a este grupo jihadista, onde "atuam de forma muito eficaz do ponto de vista militar".