Sanliurfa - Combatentes curdos iraquianos fortemente armados estavam a caminho de Kobane nesta quarta-feira (29/10) para reforçar a defesa da cidade síria contra os extremistas.
Em um novo exemplo das atrocidades cometidas pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI) nas áreas sob seu controle no Iraque e na Síria, seus combatentes executaram 46 membros de uma tribo sunita que pegaram em armas na província iraquiana de Al-Anbar (oeste), segundo um líder local. Os homens tiveram as mãos atadas e foram executados a tiros.
Enquanto os curdos sírios resistem há um mês e meio aos ataques do EI em Kobane, cidade localizada no norte da Síria perto da fronteira com a Turquia, combatentes curdos iraquianos (peshmergas) desembarcaram nesta madrugada no aeroporto de Sanliurfa (sul da Turquia) e tomaram imediatamente a estrada escoltados por blindados turcos em direção ao território sírio, a 50 km de distância.
Outro comboio de quarenta veículos, carregados com armas pesadas, chegou ao mesmo tempo na Turquia, onde foi recebido por milhares de curdos em seu caminho em direção à província de Sanliurfa.
"Longa vida aos peshmergas, longa vida às YPG", as Unidades de Proteção do Povo Curdo que defendem Kobane, gritavam as pessoas fazendo o "V" da vitória e agitando bandeiras dos movimentos curdos turco e iraquiano, constatou um fotógrafo da AFP.
O comboio estava prestes a entrar em Sanliurfa no início da tarde desta quarta-feira quando seu progresso foi retardado pela presença de muitos civis, incluindo alguns em veículos. De acordo com um oficial turco, os dois comboios vão se unir em Suruç e "atravessar juntos a fronteira com a Síria, em função da situação no local".
Combates e ataques em Kobane
Os reforços para Kobane foram possíveis graças à permissão concedida por Ancara, sob pressão dos Estados Unidos, para a passagem dos 150 peshmergas. O general americano da reserva John Allen, que coordena a coalizão multinacional, afirmou nesta quarta que esses combatentes "impedirão" a queda de Kobane.
À espera da chegada dos peshmergas, que trazem consigo armas automáticas e lança-foguetes, cerca de 150 membros do Exército Sírio Livre (ESL), a principal força rebelde contra o regime de Bashar al-Assad, chegaram à Síria pelo passagem fronteiriça turco de Mursitpinar, informou uma autoridade turca.
O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) confirmou a chegada de 50 membros do ESL em Kobane, que se tornou símbolo da resistência a um grupo islâmico extremista que tenta expandir cada vez mais os seu controle territorial. Os combates continuam em Kobane, enquanto a coalizão realizou oito ataques aéreos perto dessa cidade nas últimas 24 horas, destruindo principalmente um posto de controle do EI, segundo o Centro de Comando americano para a região (Centcom).
Em uma iniciativa surpreendente, o EI libertou nesta quarta 25 estudantes curdos de Kobane, que haviam sido sequestrados junto com outros 128 em maio. Com isso, todos os estudantes já foram libertados em diferentes momentos. Ainda na Síria, pelo menos 37 pessoas, incluindo crianças, ficaram feridas nesta quarta-feira em um atentado com carro-bomba no bairro alauíta de Al-Zahra, na cidade de Homs (centro), segundo a televisão estatal. O OSDH informou a morte de vários dos feridos nesse ataque.
Também em Homs, o Estado Islâmico tomou parte de um campo de petróleo ao sul da cidade, após combates contra as forças do regime sírio, que perderam 30 homens, segundo o OSDH. Já na província de Idleb (noroeste), pelo menos dez pessoas morreram nesta quarta em ataques aéreos do Exército em um abrigo para deslocados pela guerra que devasta a Síria há mais três anos, ainda segundo o OSDH.
"A força aérea do regime lançou dois barris de explosivos em um campo de deslocados perto da localidade de Habit, matando dez deslocados e ferindo dezenas", informou. Desde o início de sua ofensiva, o EI se apoderou de vários campos de petróleo e gás, obtendo uma importante fonte de renda. A extração de petróleo, revendido no mercado negro, movimenta cerca de um milhão de dólares por dia desde junho, de acordo com Washington.
Refugiados em perigo
Neste contexto de tensão, a ONU cobrou um maior acesso ao campo de refugiados palestinos Yarmuk, que está cercado pelo Exército sírio e onde os moradores dizem que estão sem água potável há 50 dias.
"Em contato com as autoridades governamentais, pedimos que permitam a entrada de comida no campo", explicou à AFP Margo Ellis, da agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos. Em Yarmuk, maior campo de refugiados da Síria, mais de 200 pessoas morreram neste período, sendo 128 de fome, segundo ONGs.
No vizinho Iraque, centenas de soldados iraquianos e de combatentes leais ao governo estavam reunidos preparando um ataque à cidade estratégica de Baiji, controlada pelo EI, indicaram oficiais. tomada de Baiji, ao norte de Bagdá, pode garantir a segurança da principal refinaria do país, mas essa ofensiva deve ser difícil para as forças iraquianas, que já sofreram várias derrotas em suas tentativas de retomar o terreno perdido.
Acusado de limpeza étnica e de crimes contra a Humanidade pela ONU, o EI se aproveitou da guerra civil na Síria e da instabilidade política no Iraque para tomar amplas faixas territoriais. Em junho, o grupo proclamou um "califado" nas áreas sob seu controle, onde comete execuções bárbaras, sequestros e estupros.