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Tenente-coronel Zida é o novo chefe de Estado em Burkina Faso

"O tenente-coronel Isaac Zida foi eleito por unanimidade para reconduzir o período de transição aberto no país após a saída do presidente Compaoré", afirma um comunicado

Agência France-Presse
postado em 01/11/2014 13:34

Uagadugu - Após a queda do presidente Blaise Compaoré, que fugiu para a Costa do Marfim, o Exército designou neste sábado o tenente-coronel Isaac Zida para dirigir a transição do país. "O tenente-coronel Isaac Zida foi eleito por unanimidade para reconduzir o período de transição aberto no país após a saída do presidente Compaoré", afirma um comunicado divulgado após uma reunião de comandantes do Estado-Maior.

"A forma e a duração do período de transição serão determinados posteriormente, em um acordo com as autoridades que governam a vida nacional", completa a nota. O documento estava assinado pelo rival de Zida, o general Nabéré Honoré Traoré, que reconheceu assim sua derrota, depois de ter anunciado na sexta-feira que assumira as responsabilidades de chefe de Estado.

O novo governante saiu da reunião cercado por 15 comandantes militares, enquanto Traoré, que também estava no encontro, saiu rapidamente do local. Depois do anúncio, o novo chefe de Estado retornou para Camp Guillaume, sua base no centro da capital, que fica a apenas 300 metros da sede do Estado-Maior.

Em tese, o tenente-coronel deve se encontrar nas próximas horas com representantes dos partidos políticos e da sociedade civil. A Constituição prevê que o presidente da Assembleia Nacional assegure a interinidade em caso de "vazio de poder", mas Zida suspendeu a Carta Magna na sexta-feira, horas depois da renúncia de Compaoré.

Na quinta-feira, o exército assumiu o controle do país, depois de uma insurreição popular contra a vontade do presidente de permanecer no poder, que ele assumira após um golpe de Estado em 1987.

Calma após a tempestade

A situação era relativamente tranquila na manhã deste sábado na capital Uagadugu e em Bobo Dioulasso, a segunda maior cidade do país, cenário de confrontos violentos nos últimos dias. No centro de Uagadugu, o tráfego era normal e as lojas estavam abertas. Mas o mercado central e os bancos estavam fechados neste sábado, dia útil no país.

Após uma convocação do Movimento Cidadão, uma organização que liderou a mobilização contra Compaoré, várias pessoas limpavam as ruas da capital, onde ainda era possível observar os efeitos da batalha campal dos últimos dias. "Estamos confusos como todos, agora esperamos que a situação seja esclarecida", disse à AFP Guénolé Sanou, de 32 anos, antes de saber da nomeação de Zida.

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"Eu quero um presidente civil que garanta a paz e respeite a Constituição", completou. O anúncio de Traoré na sexta-feira provocou revolta nas ruas da capital e, inclusive dentro do Exército, porque o general é considerado muito próximo de Compaoré. Neste contexto, Zida, até então o número dois da guarda presidencial, é bem visto por uma parte da sociedade civil.

Burkina Faso teve apenas um presidente nos últimos 27 anos: Blaise Compaoré. Ele participou em três golpes de Estado, o último em 1987, quando chegou ao poder após a morte de Thomas Sankara, um ícone do pan-africanismo. Sua intenção de revisar a Constituição para voltar a disputar as eleições presidenciais em 2015, abrindo o caminho para três novos mandatos e 15 anos a mais no poder, acabou com a paciência da população.

Várias manifestações, que terminaram em distúrbios, saques e até um incêndio no Parlamento, forçaram a saída de Compaoré do país. De acordo com testemunhas ele viajou para a Costa do Marfim. A queda abrupta de Compaoré representa um alerta para outros presidentes africanos que podem ficar tentados a modificar a Constituição para permanecer no poder. Quatro países - República Democrática do Congo, Burundi, Congo Brazzaville e Benin - estariam planejando revisões similares.

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