Agência France-Presse
postado em 03/11/2014 18:46
Uagadugu - Questionado nas ruas e sob pressão internacional, o novo homem forte de Burkina Faso, o tenente-coronel Isaac Zida, prometeu nesta segunda-feira uma transição "com base constitucional", sugerindo que entregará o poder às autoridades civis."O Poder Executivo será conduzido por um órgão de transição com base constitucional", afirmou o tenente-coronel Zida, em um encontro com o corpo diplomático, do qual participou um jornalista da AFP.
"Esse órgão de transição será dirigido por uma personalidade consensual designada por todos os atores da vida nacional", declarou Zida, que disse esperar que isso aconteça "o mais rápido possível".
Nesta segunda, Zida seguia suas consultas com as forças políticas e com a comunidade internacional em Uagadugu, já que a população burquinense exige a instauração de um poder civil, após a queda do presidente Blaise Compaoré na sexta-feira.
Campaoré foi obrigado a renunciar, pressionado pela insurreição popular, após 27 anos no poder.
[SAIBAMAIS]A cúpula do Exército escolheu o número dois da Guarda Presidencial, Zida, para assumir a transição, o que foi rejeitado pela população. No domingo, membros da oposição e da sociedade civil foram às ruas reivindicar um governo civil.
No domingo, um jovem morreu durante protestos em frente à sede da televisão nacional. O Exército afirma que ele foi vítima de uma "bala perdida", quando os soldados tentavam dispersar a multidão.
Ontem, Zida se reuniu com representantes da oposição e com os embaixadores de França e Estados Unidos, dois importantes aliados de Burkina Faso.
Nesta segunda, as ruas de Uagadugu pareciam voltar à normalidade. O grande mercado da capital, centro nevrálgico do comércio, abriu as portas, após passar vários dias fechado. Os bancos também funcionaram normalmente.
Um único presidente desde 1987
Desde 1987, Burkina Faso teve apenas um presidente, Blaise Compaoré, que participou de três golpes de Estado. O último deles, no ano citado, permitiu-lhe chegar ao poder depois do assassinato de seu predecessor, Thomas Sankara, ícone do pan-africanismo.
O ex-presidente desfruta agora de um refúgio tranquilo em Yamusukro, na vizinha Costa do Marfim, dirigida por seu amigo Alassane Ouattara. Desde a última sexta-feira, ele se encontra instalado em uma luxuosa residência de Estado.
No domingo, o tenente-coronel Zida reiterou seu compromisso de conduzir um processo de transição orquestrado com todos os integrantes da sociedade.
"O poder não nos interessa, apenas o interesse superior da Nação prevalece", afirmou o Exército em nota divulgada no fim de semana.
"Um órgão de transição será instalado com todos os componentes que serão aprovados por um amplo consenso, cuja duração será especificada", leu o coronel Auguste Barry, um dos homens próximos do tenente-coronel Isaac Zida.
A comunidade internacional condenou o golpe aplicado pelos militares no país africano.
Os Estados Unidos condenaram "a tentativa do Exército burquinense de impor sua vontade ao povo" e pediram aos militares que "entreguem, imediatamente, o poder às autoridades civis".
A União Europeia (UE) pediu aos militares que respeitem os direitos fundamentais da população, entre eles, o direito de se manifestar pacificamente.
Já a União Africana (UA) pediu hoje ao Exército de Burkina Faso que devolva o poder aos civis em duas semanas.
"Pedimos às Forças Armadas que transfiram o poder para as autoridades civis, e o Conselho fixou um período de duas semanas" para isso, afirmou o diretor do Conselho de Paz e Segurança da UA, Simeon Oyono Esono.