Kiev - Kiev deve decidir nesta terça-feira (4/11) medidas em resposta às eleições separatistas no leste rebelde pró-russo, onde o "presidente" eleito e reconhecido unicamente por Moscou tomou posse, ao mesmo tempo em que assegurou estar comprometido com o plano de paz na região.
O presidente ucraniano Petro Poroshenko preside na tarde desta terça uma reunião do conselho de segurança nacional e de defesa para rever os compromissos de Kiev em relação ao plano de paz que busca apaziguar o conflito armado que já fez mais de 4.000 mortos desde seu início em abril.
Neste sentido, Poroshenko garantiu na abertura da reunião "que a Ucrânia permanece firmemente comprometida ao plano de paz", mas que deseja fazer "correções" a seus compromissos. Denunciado pelos ocidentais, a eleição organizada pelos separatistas no último domingo constitui "uma violação grosseira ao protocolo de Minsk de 5 de setembro", concluído entre a Ucrânia e os rebeldes, com a participação da Rússia e da OSCE, declarou Poroshenko em um discurso à Nação na segunda-feira (3/11).
[SAIBAMAIS]Em Donetsk, reduto separatista onde violentos disparos de artilharia retomaram esta manhã, um líder rebelde, Aleksandr Zakharchenko, eleito "presidente" da autoproclamada república (DNR) com mais de 75% dos votos, tomou posse nesta terça-feira (4/11). "Eu juro servir o povo da República Popular de Donetsk", declarou o ex-mecânico de 38 anos, que até então era "primeiro-ministro" da DNR.
Uma mesma cerimônia está prevista para a tarde em Lugansk, outro reduto rebelde, onde o ex-militar de 50 anos Igor Plotnitski, muito ligado ao passado soviético, obteve mais de 63% dos votos no domingo. Muitos no leste rebelde acreditam que o possível anúncio por Kiev de medidas de retaliação após as eleições levariam ao fim do frágil cessar-fogo, cujo estabelecimento há dois meses permitiu uma diminuição na intensidade dos combates.
Além da questão da trégua, os líderes ucranianos discutem a abolição da lei sobre o "estatuto especial" das regiões separatistas, aprovado em setembro e que lhe davam uma ampla autonomia com a possibilidade de criar "milícias populares", garantindo a anistia a alguns combatentes. A adoção deste texto foi amplamente interpretada como uma "capitulação" das autoridades ucranianas, após uma série de fracassos frente aos rebeldes que recebem apoio de tropas russas, segundo Kiev e o Ocidente.
O Conselho de Segurança também deve considerar a possibilidade de cortar totalmente o fornecimento de gás às regiões sob controle rebelde. No plano internacional, os Estados Unidos assim como a União Europeia, criticaram as eleições, brandindo a ameaça de novas sanções contra a Rússia, já duramente atingida, por reconhecer esta votação.
"Como já dissemos, a Rússia tem uma escolha. (...) Se Moscou continuar a ignorar os compromissos assumidos em Minsk e prosseguir com suas ações perigosas e desestabilizadoras, os custos vão aumentar para a Rússia", advertiu na segunda-feira (3/11) Bernadette Meehan, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional (NSC) da Casa Branca. Desafiando tais advertências, a Rússia disse "respeitar" a escolha do povo e instou Kiev a "abandonar" suas operações militares no leste, considerando que os rebeldes eleito têm agora a legitimidade de negociar com as autoridades ucranianas.
Já o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Pavlo Klimkin, assegurou que as autoridades de Kiev esperam recuperar as regiões do leste, em entrevista ao jornal alemão Bild. "Algumas regiões no leste da Ucrânia estão, de fato, sob o controle dos terroristas pró-russos e de tropas russas. Mas são regiões ucranianas, e nós vamos recuperá-las", declarou.