Agência France-Presse
postado em 05/11/2014 20:13
Washington - O presidente americano, Barack Obama, disse nesta quarta-feira (5/11) estar disposto a cooperar com seus adversários republicanos, que assumiram o controle do Congresso nas eleições de meio de mandato realizadas na terça, em uma fragorosa derrota para os democratas."Estou ansioso para trabalhar com o novo Congresso para que os próximos dois anos sejam os mais construtivos possíveis", declarou Obama, em entrevista coletiva na Casa Branca, após reconhecer que os republicanos tiveram "uma boa noite" na terça-feira.
"Obviamente, os republicanos tiveram uma boa noite e merecem o crédito por fazer boas campanhas", reconheceu o presidente, depois que os republicanos assumiram o controle do Senado e fortaleceram seu domínio na Câmara de Representantes.
"É natural. É como nossa democracia funciona", avaliou.
"Mas nós podemos, certamente, encontrar maneiras de trabalharmos juntos em questões onde haja um amplo consenso entre os americanos", convidou.
Obama informou ainda que pedirá formalmente ao Congresso um debate sobre o uso da força contra o Estado Islâmico (EI). Segundo ele, é "muito cedo" para saber se os EUA estão ganhando essa batalha contra o grupo.
"Acho que é muito cedo para avaliar se estamos ganhando, porque, como eu disse no lançamento da campanha contra o Isil (Estado Islâmico do Iraque e Levante, antigo nome do EI), será um plano de longo prazo", advertiu, acrescentando que pedirá aos congressistas para continuar a luta contra os combatentes jihadistas.
"O mundo precisa saber que os EUA estão unidos nesse esforço, e os homens e mulheres do nosso Exército merecem nosso apoio claro e unido", alegou.
Reconhecendo que suas prioridades não têm chances de serem aprovadas pelo Congresso, Obama disse que os dois partidos podem encontrar um acordo no âmbito da infraestrutura e do apoio às exportações americanas.
Também nesta quarta, o presidente revelou que Washington apresentou um "plano-quadro" para ajudar o Irã a atender às suas necessidades energéticas, no momento em que as potências ocidentais tentam chegar a um acordo com Teerã sobre seu programa nuclear.
Com a proximidade da data-limite de 24 de novembro para a conclusão de um acordo, Obama frisou: "prefiro não ter acordo a ter um acordo ruim".
Na mesma coletiva, o presidente voltou a pedir ao Congresso que aprove uma reforma do sistema migratório, seguindo o modelo do projeto de lei aprovado pelo Senado no ano passado, mas bloqueado na Câmara pelos republicanos.
O texto aprovado no Senado contempla a regularização dos imigrantes em situação ilegal e um astronômico aumento da segurança na fronteira.
Aos jornalistas, o presidente Obama confirmou que agirá por decreto na reforma migratória até o final de 2014.
"Antes do fim do ano, vamos tomar qualquer ação legal possível que eu considere que vá melhorar o funcionamento do nosso sistema migratório", anunciou.
"Estou disposto a ver o que têm para oferecer", declarou, ressaltando, porém, que "não vou ficar esperando".
O presidente alegou que continuar esperando "tem um custo", referindo-se aos custos para deportar os imigrantes em condições ilegais, no lugar de permitir sua regularização, com o pagamento de multa e impostos.
Minutos antes, o senador Mitch McConnell, que deve ser o líder da maioria republicana no Senado a partir de janeiro, havia advertido o presidente contra qualquer ação individual do Executivo sobre imigração e listou âmbitos possíveis de cooperação com o governo.
Um decreto do presidente para aliviar a situação dos 11 milhões de imigrantes, sem consultar o Congresso, seria como levantar "uma bandeira vermelha na frente de um touro", comparou McConnell.
"Seria um grave erro do presidente tomar iniciativas unilaterais em matéria de imigração", insistiu McConnell, em entrevista coletiva em Louisville, no estado de Kentucky, sul dos EUA.
"Seria um sinal de alerta que estaria nos dizendo: ;já que não querem fazer o que eu quero, vou fazer sozinho;", completou.
Entre as possibilidades de cooperação bipartidária, Mitch McConnell citou a reforma fiscal e a ratificação dos tratados de livre comércio. Dois deles estão sendo negociados com a União Europeia e com 11 países asiáticos.
O senador também mencionou as iniciativas legislativas dos republicanos com menos probabilidade de convergência com os democratas, como as medidas para aumentar a produção de petróleo, a independência energética e a construção do oleoduto Keystone XL, entre o Canadá e o Golfo do México.
A agenda do Senado também incluirá o tratamento de vários pontos da reforma do sistema de saúde americano, apelidada de "Obamacare", assim como as regulamentações bancárias da chamada reforma Dodd-Frank. McConnell admitiu que não há garantias de que Barack Obama vá promulgar todas as leis aprovadas no Congresso.