Agência France-Presse
postado em 06/11/2014 19:00
México - A situação dos direitos humanos no México é "crítica" e crimes como o desaparecimento de 43 estudantes após os ataques de policiais de Iguala (sul) confirmam a profundidade da crise que vive o país, alertou nesta quinta-feira (6/11) a ONG Human Rights Watch (HRW)."A regra no México é a impunidade e o caso de Iguala é de extrema gravidade, mais um sintoma de uma crise profunda que toma conta do México em matéria de direitos humanos", denunciou em uma coletiva de imprensa na capital mexicana José Miguel Vivanco, diretor para as Américas da HRW.
Para Vivanco, a impunidade, a corrupção e a infiltração do narcotráfico em instituições de segurança pública se acentuaram durante o combate militar antidrogas colocado em prática por Felipe Calderón (2006-2012) e no mandato de Enrique Peña Nieto, que mantém "as mesmas práticas e a mesma atitude" no que diz respeito às violações de direitos humanos.
Mais de 80.000 pessoas foram assassinadas no México e 22.000 estão desaparecidas desde o início da presidência de Calderón.
A diretoria da HRW, com sede em Nova York, lamentou a reação "ruim e tardia" do governo de Peña Nieto diante do desaparecimento, há 41 dias, dos estudantes, no que considera "um dos casos mais graves registrados na história contemporânea do México e da América Latina". "A situação de direitos humanos no México é crítica", alertou Vivanco se referindo também a outro grave caso ocorrido em junho, em Tlatlaya (centro), que classificou de "crime de Estado".
Três militares foram acusados de assassinar - a sangue frio - pelo menos oito suposto delinquentes quando já havia terminado um enfrentamento em Tlatlaya.Sobre o caso de Iguala, a HRW lamentou que a procuradoria-geral tenha assumido as investigações nove dias depois do desaparecimento dos jovens nos ataques da polícia no dia 26 de setembro e que até agora não tenha encontrado seu paradeiro.
Por declarações de alguns dos 59 detidos - entre eles policiais, traficantes de drogas e políticos - o governo acredita que o então prefeito de Iguala, detido na terça-feira (4/11), ordenou que seus agentes atacassem os jovens, que depois foram entregues a narcotraficantes.
A procuradoria não fez a reconstituição do ocorrido, mas teme que os bandidos tenham assassinado e enterrado os estudantes. Vivanco expressou suas suspeitas sobre a "tendência dos detidos no México confessarem seus crimes" e sobre a resolução "fácil" feita pelas autoridades de outros casos com base nessas declarações.
"A desconfiança dos mexicanos (relativa às investigações das autoridades) é perfeitamente explicável", afirmou Vivanco, que assegurou que a HRW aguarda a opinião de legistas argentinos independentes que trabalham no caso sobre as conclusões do governo.