México - Um grupo de manifestantes tentou derrubar a porta principal do palácio nacional da Cidade do México na madrugada de domingo para protestar contra o anúncio feito de que os 43 estudantes desaparecidos foram chacinados.
Cerca de vinte pessoas, alguns com o rosto coberto, tentaram forçar as portas com pedaços de ferro e inclusive chegaram a atear fogo, mas não conseguiram entrar no palácio, que o presidente Enrique Peña Nieto usa apenas para cerimônias oficiais.
Sem interferência das equipes de segurança, os manifestantes também picharam mensagens como "Nós os queremos vivos", em referência aos estudantes desaparecidos.
Estudantes mexicanos enfurecidos também queimaram veículos na frente da sede do governo da região de Guerrero (sul).
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[SAIBAMAIS]Mais de 300 jovens, a maioria com o rosto coberto, quebraram vidros da fachada do prédio oficial, em Chilpancingo, capital de Guerrero, e atearam fogo a vários veículos. A polícia não intercedeu.
O México está sob o impacto da notícia sobre o massacre dos 43 estudantes confessado por traficantes de drogas detidos - revelação essa em que os pais das vítimas se recusam a acreditar até que haja provas.
Depois de quase um mês e meio sem notícias claras sobre os estudantes, a Procuradoria Geral mexicana divulgou a chocante declaração de três membros do cartel de drogas Guerreros Unidos. O trio confessou o assassinato dos jovens, relatando que os corpos queimaram por 14 horas até serem jogados em um rio.
Até agora, a Procuradoria havia conseguido reconstituir apenas parte do crime ocorrido na trágica noite de 26 de setembro, em Iguala, no estado de Guerrero (sul). Policiais locais atacaram alunos da combativa Escola de Magistério de Ayotzinapa, por ordem do agora ex-prefeito detido. O objetivo era evitar protestos durante um comício liderado pela primeira-dama da prefeitura para não prejudicar sua candidatura.
Nesses ataques, seis pessoas morreram, e 43 alunos foram dados como desaparecidos, a maioria entre 18 e 21 anos. Segundo confissões de outros envolvidos detidos, os jovens teriam sido entregues por policiais a traficantes do Guerreros Unidos.
A organização Human Rights Watch classificou o crime como "um dos mais graves registrados na história contemporânea do México e da América Latina".
Mais de 80 mil pessoas foram assassinadas no México, e outras 22 mil estão desaparecidas, desde que o ex-presidente Felipe Calderón lançou o combate militar contra os cartéis, em 2006.
Até o momento, os pais são os primeiros a garantir que não vão "baixar a guarda" diante da reviravolta nas investigações.
"Parece que interessa ao governo federal, com uma grande irresponsabilidade, que isso acabe logo, porque tudo é na base de depoimentos, não há nada certo", declarou Meliton Ortega, tio de um dos desaparecidos.
Com base nas confissões de três pistoleiros, divulgadas parcialmente em vídeos na sexta-feira, o procurador-geral do México, Jesús Murillo Karam, contou que os estudantes foram levados para um lixão da localidade vizinha de Cocula, na noite de setembro. Alguns já chegaram ao local mortos por asfixia, e os demais foram assassinados lá mesmo.
Segundo os pistoleiros, os corpos calcinados foram fraturados, colocados em sacos de lixo e jogados em um rio próximo de Cocula. No lixão, peritos encontraram cinzas e alguns vestígios de ossos humanos. Murillo Karam destacou que um dos sacos foi encontrado fechado, com restos humanos que dificilmente serão identificados.
Os pais das vítimas afirmam que acreditarão na versão atual apenas quando os restos mortais encontrados forem verificados por uma perícia independente.
Este é o pior momento político do governo Enrique Peña Nieto, desde que o presidente assumiu o cargo em 2012. Neste ano, quando o Partido Revolucionário Institucional (PRI) recuperou a presidência, Peña Nieto foi aplaudido por chefes de Estado por suas polêmicas medidas, como a abertura do nacionalizado setor petroleiro ao investimento privado.
Protestos em massa varrem o país, e a expectativa é que aumentem após as últimas notícias sobre os estudantes.