Agência France-Presse
postado em 10/11/2014 11:54
Ramallah - Yaser Arafat, lutador incansável pela independência dos palestinos durante décadas, continua um símbolo para um povo que ainda aguarda um Estado, 10 anos após a morte de seu herói nacional.Quando faleceu, em 11 de novembro de 2004, era o presidente de uma Autoridade Palestina agonizante. Dez anos mais tarde, seu sucessor, Mahmud Abbas, conseguiu na ONU o status de Estado observador.
Mas na prática, 66 anos após a criação de Israel, os palestinos ainda não têm um Estado. Sem o reconhecimento internacional para o Estado almejado, Arafat continua sendo para os palestinos um "símbolo nacional, alguém que nunca abdicou e dedicou sua vida à causa", explica Nathan Brown, do Centro Carnegie.
Ele enfrentou Israel até o fim da vida, cercado em seu quartel-general de Ramallah. Por isto, "a causa palestina se identifica com sua pessoa", afirma Karim Bitar, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS).
"Sua vitória foi ter conseguido que a Palestina passasse de uma causa humanitária a uma verdadeira questão nacional", destaca Xavier Abu Eid, porta-voz da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), fundada e dirigida por Arafat até sua morte.
Um ramo de oliveira e um fuzil
Em 1974, Arafat disse na ONU: "Vim com um ramo de oliveira e um fuzil de revolucionário, não deixem que o ramo caia da minha mão". Mas depois ele acabou optando por uma solução diplomática, com o início de um árduo processo de paz, paralisado desde o ano 2000.
Considerado um "terrorista" pelos israelenses, expulso da Jordânia em 1970 e do Líbano em 1982, Arafat encarnou um líder que luta por um Estado, sem nunca tirar a roupa militar e o tradicional keffiyeh.
"Arafat foi o primeiro que tomou a dolorosa decisão de reconhecer em 1988 as fronteiras de 1967, que abandonam 78% da Palestina histórica, e abriu o caminho para a coexistência", recorda Abu Eid.
Em 1993 ele decidiu assinar os acordos de Oslo, que durante algum tempo representaram a possibilidade de um Estado palestino. Com o aperto de mãos histórico na Casa Branca com o primeiro-ministro israelense Yitzhac Rabin acabou com 27 anos de exílio e assumiu o comando da Autoridade Palestina.
Mas, segundo Bitar, para retornar à Palestina "fez muitas concessões, sem garantias sobre o fim da colonização nem da ocupação".
Dez anos depois da morte, os palestinos ainda tentam obter um Estado. Eles pretendem levar uma votação à ONU sobre o fim da ocupação em um prazo de dois anos, um projeto que pode ser barrado por mais um veto dos Estados Unidos.
"Mártir" da causa
O povo fica com a imagem de que, apesar de todos os erros - afirma Abu Eid -, levou a mensagem aos acampamentos de refugiados de todo o planeta.
Este "personagem de romance", que criou a própria lenda, sabia jogar com as palavras. Durante a segunda Intifada, elogiou a "resistência", atraindo para o seu lado um movimento que não havia planejado ou criado.
A mobilização das massas foi seu ponto forte até a morte. Quando seu corpo foi repatriado, milhares de palestinos compareceram a Ramallah para prestar homenagem.
Em 2004, Arafat se tornou um "mártir" da causa ao morrer em circunstâncias que ainda estão sendo investigadas: as mostras revelam a possibilidade de envenenamento.
Na opinião de Bitar, Abu Ammar, seu nome de guerra, era um "revolucionário e não um homem de Estado, exercia um poder pessoa e não soube construir instituições e planejar o futuro".
Após sua morte, Abbas tenta, com dificuldades, impor sua liderança, tanto aos israelenses como aos palestinos, que além da ocupação sofrem com as divisões entre o Fatah, do qual é líder, e o Hamas, movimento islamista que resiste a entregar o poder na Faixa de Gaza. O Hamas expulsou o Fatah de Gaza em 2007 e reconciliação aconteceu há apenas poucos meses.