Agência France-Presse
postado em 10/11/2014 14:28
Acapulco - Os pais e amigos dos 43 estudantes que teriam sido assassinados retomaram os protestos contra o governo mexicano, nesta segunda-feira (10/11). Eles tentaram se manifestar no aeroporto do balneário de Acapulco (sul), onde um confronto com a polícia deixou vários feridos.
Cerca de 300 manifestantes, que se identificam como estudantes, e alguns pais dos 43 desaparecidos iniciaram uma marcha para o aeroporto desse grande centro turístico, mas policiais do Batalhão de Choque impediram-nos de passar pela principal via de acesso.
Os manifestantes, a maioria com o rosto coberto, reagiram, jogando pedras nos policiais. Dez agentes ficaram feridos por agressões, e um, por queimaduras causadas por um coquetel molotov - disse um funcionário de Segurança Pública do estado de Guerrero.
Depois de uma conversa entre o porta-voz dos pais das vítimas, Felipe de la Cruz, e as autoridades, permitiu-se que os manifestantes seguissem sua caminhada até o aeroporto, com a condição de que o ato fosse pacífico.
Os manifestantes levam pedaços de pau, canos, e alguns carregam até facões, que costumam aparecer em protestos rurais. Com isso, dezenas de turistas estão indo a pé até o aeroporto, arrastando as malas, para pegar seus aviões. "Nunca pensei em viver algo assim, mas temos de andar", disse, resignada, a turista mexicana Marcela Tijerina, que voltava para Monterrey (norte), após passar o fim de semana com as amigas em Acapulco.
Fúria contra autoridades
A manifestação faz parte da campanha de protestos para exigir das autoridades que continuem a busca e encontrem, com vida, os 43 estudantes da comunidade de Ayotzinapa (Guerrero). Os jovens desapareceram em 26 de setembro em Iguala, depois de serem brutalmente atacados por policiais locais e entregues a traficantes de drogas.
Na última sexta-feira (7/11), a Procuradoria anunciou que três bandidos confessaram ter assassinado os estudantes e queimado seus corpos. Depois, os restos carbonizados foram jogados em um rio próximo.
Incrédulos, os pais e amigos dos jovens exigem da Procuradoria provas dessa versão e insistem em que os garotos continuam vivos.
O anúncio da Procuradoria gerou forte comoção nacional e deflagrou uma onda de protestos. No sábado, estudantes foram até o prédio do governo estadual de Guerrero, na cidade de Chilpancingo, e queimaram cerca de dez veículos nas proximidades.
Na noite de sábado, um pequeno grupo radical saiu da manifestação que seguia pacífica no centro da Cidade do México e tentou derrubar e atear fogo à entrada principal do emblemático Palácio Nacional.
Polêmicas de Peña Nieto
O crime de Iguala gerou a pior crise para Enrique Peña Nieto desde que ele assumiu a presidência em 2012. Apesar do caos no país, o presidente decidiu manter uma viagem de seis dias pela China e pela Austrália para participar das cúpulas da Apec e do G20.
O embarque de Peña Nieto no domingo irritou os pais e amigos das vítimas, que estão longe de considerar este caso como encerrado.
"Estão brincando com os sentimentos dos pais de família, e parece que o presidente se preocupa mais com ir para outros países do que com enfrentar seu país em choque", disse à AFP um dos estudantes da Escola para professores rurais de Ayotzinapa, a mesma das vítimas.
"Enquanto não houver justiça para o povo, não haverá descanso para o governo", afirmou. "Vamos continuar lutando, e vamos começar ações diferentes, mais fortes, porque o governo não nos ouviu", antecipou no domingo à noite Epifanio Álvarez, pai de um dos desaparecidos.
Quando já voava para a China, o presidente se viu envolvido em outra polêmica em seu país. O "site" de notícias da jornalista Carmen Aristegui informou que a primeira-dama assinou um contrato, em 2012, para a compra de uma luxuosa mansão na Cidade do México, avaliada em US$ 7 milhões.
A casa era propriedade de uma empresa mexicana que participa de um consórcio, liderado pela companhia Chinesa Railway Construction Corporation. Em 3 de novembro, essa empresa obteve a licitação para construir o primeiro trem de alta velocidade no México e na América Latina por mais de US$ 3,7 bilhões.
Apenas três dias depois, Peña Nieto revogou essa concessão, após questionamentos sobre a transparência do processo licitatório. Apenas um consórcio - mencionado acima - apresentou proposta.
O gabinete de Peña Nieto reagiu à matéria, explicando que o imóvel foi comprado apenas pela primeira-dama, a popular ex-atriz de novela Angélica Rivera. A empresa chinesa estuda adotar ações legais pela anulação da licitação.