Agência France-Presse
postado em 12/11/2014 14:47
Sófia - A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) denunciou nesta quarta-feira (12/11) que vários comboios militares russos, incluindo tanques, artilharia e tropas, entraram no leste da Ucrânia nos últimos dois dias.A informação foi imediatamente desmentida por Moscou.
"Nos últimos dois dias, observamos a mesma coisa que a OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa). Vimos colunas de equipamento russo, tanques russos, sistemas de defesa antiaérea russos, artilharia russa e tropas de combate russas entrando na Ucrânia", afirmou o comandante-em-chefe da Aliança Atlântica, Philip Breedlov.
Na terça-feira, a OSCE alertou que o risco de uma escalada no conflito no leste da Ucrânia entre o governo de Kiev e os separatistas pró-russos está aumentando.
"O nível de violência no leste da Ucrânia e o risco de uma nova escalada são altos e estão aumentando", afirmou Michael Bociurkiw, membro da missão especial de supervisão da OSCE na Ucrânia, em coletiva de imprensa em Kiev.
Jens Anders Toyberg-Frandzeno, assistente do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, revelou nesta quarta-feira que a organização está "profundamente preocupada com a possibilidade de que haja uma guerra total" na Ucrânia.
O funcionário destacou que outro cenário possível é que o leste da Ucrânia tenha "um conflito congelado e persistente, que manteria o ;status quo; (...) nos próximos anos, ou décadas".
O terceiro cenário, segundo ele, é "um conflito de baixa intensidade que continue desta maneira durante meses, com combates esporádicos, seguido de períodos de aumento das hostilidades e da perda de vidas".
A Rússia negou as acusações da Otan sobre o envio de soldados e equipamento militar ao leste da Ucrânia.
"Já não prestamos atenção às declarações sem fundamento do comandante-em-chefe da Otan na Europa [general Philip Breedlove]", declarou o porta-voz do Ministério da Defesa, Igor Konashenkov, falando às agências de notícias russas.
Já a Ucrânia afirmou que está preparada para o combate contra as tropas russas e as forças separatistas que reforçam suas posições no leste do país.
"Observamos um reforço dos grupos terroristas (como o governo russo chama os rebeldes pró-russo) e de parte da Rússia. Observamos seus movimentos, sabemos onde se encontram", afirmou o ministro ucraniano da Defesa, Stepan Poltorak, em uma reunião de governo.
"Nossa tarefa principal é nos prepararmos para o combate", acrescentou.
Nesta quarta-feira, os disparos de artilharia se intensificaram perto de Donetsk, reduto separatista pró-russo no leste da Ucrânia, informaram jornalistas da AFP.
Os disparos, mais intensos do que nos últimos dias, começaram nas primeiras horas da manhã e pareciam dirigidos contra o aeroporto, sob controle das tropas leais a Kiev.
Segundo o Exército ucraniano, um soldado ficou ferido no aeroporto, epicentro há meses de combates entre as tropas de Kiev e os separatistas.
Nos últimos dias, os correspondentes da AFP na região presenciaram a chegada de comboios militares com tanques e caminhões sem matrícula.
Desde sexta-feira, a Ucrânia denuncia a entrada de tanques e peças de artilharia vindas da Rússia no leste separatista pró-russo.
A situação na região piorou consideravelmente após as eleições separatistas de 2 de novembro, que deixaram em situação crítica os acordos de paz assinados em setembro por Kiev e pelos separatistas pró-Moscou. Os acordos foram mediados pela Rússia e pela OSCE.
O conflito já deixou mais de quatro mil mortos. Esse balanço demonstra, mais uma vez, a fragilidade do cessar-fogo concluído em 5 de setembro em Minsk, capital de Belarus.
Iniciada há quase um ano com um movimento de protesto pró-Europa reprimido com violência e que levou à queda do então presidente, o pró-Rússia Viktor Yanukovytch, a crise ucraniana provocou o pior momento nas relações entre Moscou e os países ocidentais desde o fim da Guerra Fria.
A União Europeia vai analisar a situação em uma reunião ministerial prevista para a próxima segunda-feira, em Bruxelas.
A questão ucraniana também foi discutida pelos presidentes dos Estados Unidos e da Rússia, Barack Obama e Vladimir Putin, em Pequim. Ambos participaram da cúpula de dirigentes da Ásia e Pacífico.