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Fotos inéditas de Che Guevara são divulgadas por família espanhola

O registro foi feito pelo fotógrafo Marc Hutten, autor dos poucos instantâneos coloridos que imortalizaram o momento em que o exército boliviano expôs o corpo do guerrilheiro

Agência France-Presse
postado em 13/11/2014 15:44
As imagens pertenciam a um missionário que trabalhou por anos na cidade boliviana de Sucre
Quase cinquenta anos se passaram até que reaparecessem certas fotos de Ernesto "Che" Guevara tiradas após sua morte, chegadas à Espanha por meio de um missionário - cuja família guardou os cliques, feitos por um jornalista da AFP. "Meu tio as trouxe quando veio para o casamento de meus pais, no final de novembro de 1967", relata Imanol Arteaga, sobrinho do missionário Luis Cuartero Lapieza, que durante "onze ou doze anos" trabalhou na cidade boliviana de Sucre.

"Minha tia e minha mãe me contaram que as fotos foram dadas a ele por um jornalista francês", relata Arteaga, atual guardião das fotos em preto e branco que seu tio, de quem era muito próximo, trouxe da Bolívia.

Após a morte de Cuartero em 2012, Arteaga, prefeito do povoado de Ricla (Aragão, nordeste da Espanha), guardou alguns objetos do tio como recordação. "E então me lembrei das fotos de Che e minha tia não teve dúvidas: ;sim, sim, sei onde estão;", conta Arteaga, que dias depois recebeu um envelope com as fotos.

Intrigado pelas imagens, Arteaga iniciou então uma pequena investigação começando por sua origem: "um jornalista francês". Usando uma ferramenta de buscas da internet, "coloquei ;jornalista francês Che morto; e achei Hutten e umas fotos que eram muito parecidas com as que eu tinha", explica.

O registro foi feito pelo fotógrafo Marc Hutten, autor dos poucos instantâneos coloridos que imortalizaram o momento em que o exército boliviano expôs o corpo do guerrilheiro

- Che e Tamara Bunke -

Arteaga acredita, assim, que as fotos foram dadas a seu tio pelo repórter francês da AFP Marc Hutten, autor dos poucos instantâneos coloridos que imortalizaram o momento em que o exército boliviano expôs o corpo do guerrilheiro no povoado de Vallegrande (a 150 km de Santa Cruz). "Pediram (ao missionário) que trouxesse as fotos porque ele era o único europeu que ia embora da Bolívia naquele momento", considera Arteaga.

As fotos parecem corresponder a momentos diferentes, já que em algumas o médico argentino, convertido em mito revolucionário, aparece vestido com uma jaqueta aberta, enquanto em outras parece sem a roupa - como se estivesse sendo exibido. Também há uma foto de uma companheira de Che na Bolívia, Tamara Bunke, conhecida como Tânia, e outra que supostamente mostra seu cadáver numa maca com uma camiseta e o rosto manchados.

Che foi capturado em 8 de outubro de 1967 e morto no dia seguinte antes de ser sepultado às escondidas pelos militares bolivianos na madrugada de 11 de outubro ao lado de outros seis guerrilheiros. Hutten, que morreu em 2012, "nos disse que tinha enviado quatro ou cinco rolos à AFP em Paris" com fotos do cadáver de Che, relata Sylvain Estibal, chefe da fotografia da AFP para a Europa e a África.

O registro foi feito pelo fotógrafo Marc Hutten, autor dos poucos instantâneos coloridos que imortalizaram o momento em que o exército boliviano expôs o corpo do guerrilheiro

- Valor sentimental -

Quando Hutten voltou a Paris alguns meses após a morte de Che, constatou que "só havia umas poucas fotos de sua reportagem. Onde estão as outras continua sendo um mistério", acrescentou Estibal. Arteaga não havia sequer pensado em tornar públicas as fotos entregues ao tio até falar com alguns repórteres de um jornal local, El Heraldo de Aragón.


Os jornalistas o ajudaram a falar com um especialista que garantiu que o papel em que as fotos foram reveladas deixou de ser fabricado há muito tempo, confirmando a época em que foram feitas. "O que mais me interessava nessas fotos é que elas eram do meu tio, tinham valor sentimental", afirmou, antes de garantir que "agora me dou conta de que têm um valor histórico". Mas o sobrinho não pensa em se desfazer das imagens.

Arteaga, que ainda se emociona ao lembrar do tio, garante que "nos últimos 14 anos", até sua morte, "falávamos todos os dias", mas nunca tocaram no assunto das imagens, nem de sua autoria. "Essa foi uma das conversas que ficaram apenas na vontade", concluiu.

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