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Eram "lenda urbana da família", diz guardião de fotos inéditas de Che

O corpo do guerrilheiro argentino aparece sobre uma mesa improvisada na lavanderia de um hospital de Vallegrande, na Bolívia

Rodrigo Craveiro
postado em 14/11/2014 06:00

Por 46 anos, as seis fotografias originais do corpo de Ernesto Che Guevara permaneceram incólumes dentro de um envelope, junto de várias outras imagens da Bolívia e do Peru, em uma casa da família Cuartero, no povoado espanhol de Castiliscar, na província de Zaragoza. ;Eu já tinha ouvido falar das fotos, mas, para mim, era como se fossem uma lenda urbana na família;, afirmou ao Correio, por telefone, Imanol Arteaga Cuartero, vice-prefeito de Ricla, município de 3,2 mil habitantes. Ouça trecho da conversa:

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Imagem de Che Guevara colorida por computador


O corpo do guerrilheiro argentino aparece sobre uma mesa improvisada na lavanderia de um hospital de Vallegrande, na Bolívia. Em duas fotos, ele tem a roupa suja de sangue; nas outras quatro, está sem camisa. ;Elas foram tiradas por Marc Hutten, fotógrafo da agência France-Presse. Ele foi colega de meu tio no seminário, onde ambos as revelaram. Hutten deu as fotos a ele, como cópias de segurança;, contou Imanol, referindo-se ao tio, o missionário Luis Cuartero Lapieza, que trabalhou na Bolívia por mais de 11 anos. Lapieza levou os registros à Espanha no fim de novembro de 1967.

Após a morte do tio, Imanol perguntou a uma irmã de sua mãe sobre as fotos. ;Minha tia me contou que elas estavam em Castiliscar (a 119km de Ricla) e fui vê-las com outro tio;, lembra. ;Em janeiro de 2013, quando abri o envelope, eu disse: ;Por Deus, como pudemos guardá-las por tanto tempo?;. Imanol imaginava que as fotos fossem cópias de outras já publicadas pela imprensa. ;O valor sentimental delas era tão grande que eu ignorava seu valor histórico.;

O político decidiu investigar as origens da foto e, por meio de pesquisas na internet com as palavras-chave ;jornalista francês Che morto;, chegou a Hutten. Foi então que constatou a similaridade entre as imagens feitas pelo fotógrafo francês e as que possuía. ;Para mim, foi uma espécie de terapia;, contou. Além dos seis retratos de Che morto, ele guarda duas fotos do cadáver da guerrilheira Tamara Bunke, companheira do argentino.

Jornalistas souberam da notícia e tentaram convencer o vice-prefeito a publicar as fotos. Ele resistiu, em respeito à memória do tio. ;Um repórter francês me procurou mostrando interesse por elas e me disse que eram diferentes das que existiam. Eu sabia que tinham valor importante, mas não tanto quanto se percebeu;, declarou Imanol. Che Guevara foi capturado em 8 de outubro de 1967 e executado no dia seguinte por militares bolivianos.

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