Agência France-Presse
postado em 16/11/2014 18:29
[SAIBAMAIS] O presidente americano, Barack Obama, confirmou neste domingo a morte do voluntário americano Peter Kassig, que passou a se chamar Abdul-Rahman Kassig, após se converter ao Islã, denominando sua decapitação pelas mãos de membros do grupo Estado Islâmico de ato de "pura maldade", que deixou sua família devastada. "Abdul-Rahman foi tirado de nós em um ato de pura maldade praticado por um grupo terrorista que o mundo corretamente associa com a desumanidade", declarou Obama, em um comunicado divulgado a bordo do avião presidencial Air Force One, durante sua viagem de retorno aos Estados Unidos, após visita de Estado à Ásia.
"Hoje apresentamos nossos pêsames e nossas orações aos pais e à família de Abul Rahman Kassig, também conhecido como Peter", escreveu Obama. "Enquanto o ISIS se deleita com o massacre de inocentes, inclusive muçulmanos, e só se inclina em semear a morte e a destruição, Abdul-Rahman foi um filantropo, que trabalhou para salvar as vidas dos sírios prejudicados e destituídos pelo conflito sírio", acrescentou Obama. "As ações do ISIS não representam a fé, menos ainda a fé muçulmana que Abdul-Rahman adotou como sua", prosseguiu o presidente, em alusão à conversão do americano morto ao Islã.
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O grupo ultrarradical islamita reivindicou neste domingo a execução por decapitação do trabalhador humanitário americano de 26 anos, sequestrado em 1; de outubro de 2013 na Síria, em resposta ao envio de conselheiros militares ao Iraque, em um vídeo postado em um site jihadista. O americano foi sequestrado na província de Deir Ezzor, onde trabalhava em hospitais ajudando sírios que fugiam para a Turquia e o Líbano. Ele se converteu ao Islã após a sua captura.
No vídeo, aparece um homem encapuzado e vestido de preto, de pé, ao lado de uma cabeça cortada. "Este é Peter Edward Kassig, um cidadão do seu país", diz o homem, com sotaque britânico. No mesmo vídeo, combatentes do EI aparecem decapitando simultaneamente 18 homens apresentados como soldados do presidente sírio, Bashar al Assad.
O ex-soldado americano foi o terceiro refém americano e o quinto ocidental a ter a execução reivindicada pelo EI. "Assim como Jim Foley e Steven Sotloff, antes dele, sua vida e feitos se põem em total contraste com tudo o que o ISIS representa", acrescentou Obama, usando outro acrônimo pelo qual o Estado Islâmico é conhecido. O presidente enalteceu a obra de Kassig como "atos abnegados de um indivíduo que se preocupava profundamente com a situação do povo sírio".
Kassig havia fundado um grupo de ajuda, no qual ele mesmo treinou 150 civis para dar ajuda médica ao povo sírio. Seu grupo também distribuía comida, suprimentos para cozinhar, roupas e remédios para os necessitados. Sua morte ocorre em um momento em que os Estados Unidos se preparam para dobrar sua presença militar no Iraque para 3.100 homens, como parte da campanha internacional que o país lidera contra o EI.
Obama expressou sua confiança em que "o espírito indomável da bondade e da perseverança que ardia tão fortemente em Abdul-Rahman Kassig, e que mantém unida a humanidade, será por fim a luz que irá prevalecer sobre a escuridão do ISIS".
Lembrar a vida, não a morte
Os pais de Kassig se disseram devastados com a confirmação do assassinato de seu "filho querido". "Estamos com o coração partido em saber que nosso filho perdeu a vida como resultado de seu amor pelo povo sírio", escreveram Ed e Paula Kassig, em uma postagem publicada na conta @kassigfamily no microblog Twitter.
Mais cedo, antes da confirmação da morte de Kassig, seus pais pediram aos meios de comunicação para evitar se concentrar nas imagens horríveis da morte do jovem, focando-se em sua vida. "A família pede, respeitosamente, aos meios de comunicação, que evitem fazer o jogo dos sequestrados e evitem publicar ou difundir as fotos ou os vídeos distribuídos pelos sequestradores", declararam Ed e Paula, em um comunicado.
"Preferimos que escrevam e lembrem do nosso filho pelo importante trabalho e o amor que compartilhava com sua família e amigos, ao invés da forma como os sequestradores o usaram para manipular os americanos e fazer avançar sua causa", acrescentaram. O secretário de Estado americano, John Kerry, assegurou, por sua vez, que o governo trabalhou com a família Kassig para tentar evitar este desenlace e lembrou que, em outubro, a mãe do jovem tinha se dirigido ao grupo EI através do Twitter pedindo que não o matassem.
O chefe da diplomacia americana afirmou que o pedido da família Kassig aos captores é "inesquecível". "O fato de que seu pedido não foi ouvido é apenas outra demonstração da crueldade infame dos terroristas do EI, que tiraram seu filho", disse.