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Líderes de comunidades internacionais discutem desnutrição em Roma

Segunda Conferência Internacional sobre Nutrição é celebrada na sede da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), 22 anos depois da primeira cúpula sobre fome no mundo

Agência France-Presse
postado em 18/11/2014 17:19
Roma - Líderes e representantes de mais de 190 países, organismos intergovernamentais, membros da sociedade civil e empresas privadas se reúnem esta semana em Roma para discutir a desnutrição, um dos maiores desafios do século XXI, que afeta países ricos e pobres.

A Segunda Conferência Internacional sobre Nutrição, celebrada na sede da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), 22 anos depois da primeira cúpula sobre fome no mundo, foi convocada pois a economia mundial, os sistemas sanitários e o estado nutricional da população em todo o planeta mudaram significativamente desde então, admitiram os organizadores.

"Novos males e demônios surgiram, como o da obesidade, que não é um problema só dos países ricos, o da fome oculta, (provocada) pela má qualidade dos alimentos consumidos, (são) problemas que se tornaram uma prioridade hoje em dia", explicaram à AFP fontes diplomáticas latino-americanas.

Ao fim de três dias de reuniões, de 19 a 21 de novembro, e de vários meses de discussões, será aprovada a chamada Declaração de Roma sobre a Nutrição, na qual países e organizações se comprometerão a respeitar importantes pontos e estratégias para combater a desnutrição e, sobretudo, melhorar a qualidade dos alimentos, sob o lema "Nutrição melhor, vida melhor".

A declaração, que tem caráter político, será acompanhada do Plano de Ação, uma espécie de guia técnico, com 60 recomendações não-vinculantes, entre elas a de favorecer uma alimentação "sadia e adequada", um princípio defendido pelos países latino-americanos, que lutam para não perder sua identidade cultural e alimentar.

A desnutrição, que assumiu um caráter global, pois afeta tanto países em desenvolvimento quanto desenvolvidos, será abordado também diante da assembleia, na próxima quinta-feira (20/11), pelo papa Francisco, que visitará na ocasião a sede central da FAO, em Roma.

Fenômenos como o "desperdício de alimentos" e a mentalidade corrente de considerar a fome como "um fato inevitável" foram denunciados pelo Papa argentino, tradicionalmente sensível a estes temas.

Além do pontífice, participarão do encontro a rainha Letizia, da Espanha; o rei Letsie III, de Lesotho; a primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, e Melinda Gates, além de mais de 100 ministros da Agricultura, Saúde e outras pastas.

Fome oculta e obesidade

Dois bilhões de pessoas, aproximadamente um terço da população do mundo em desenvolvimento, sofrem de carência nutricional, como falta de vitamina A, sal iodado, ferro, zinco, segundo estudos da FAO.

Trata-se de um novo "demônio", conhecido como "fome oculta", porque aparentemente a pessoa está bem alimentada, mas sofre de desnutrição crônica, uma questão que tende a não ser levada em conta pela sociedade em geral, mas que os especialistas das Nações Unidas consideram chave porque acarreta problemas de saúde e também econômicos.

"Os custos da desnutrição são altíssimos para a população. Segundo os estudos, 161 milhões de crianças apresentam atraso em seu crescimento pela carência de alimentos", explicou Leslie Amoroso, especialista em nutrição da FAO.

A desnutrição representa "um freio ao desenvolvimento", disse Amoroso, mencionando entre os problemas, a baixa produtividade laboral de pessoas com desnutrição crônica. Outro mal da sociedade moderna, que afeta camadas inteiras de populações dos países desenvolvidos, assim como de países em desenvolvimento é o da obesidade.

Dados divulgados pela FAO e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), organizadoras da cúpula, são surpreendentes e preocupantes, pois 500 milhões de adultos são obesos, um fenômeno que já é típico do novo milênio.



[SAIBAMAIS]Segundo dados da FAO, o México desbancou este ano os Estados Unidos como o país com maior incidência de obesidade no mundo, com 32,8% de adultos obesos contra 31,8% de americanos.

A política de dar ou gerar dinheiro para famílias rurais a fim de combater a fome não parece suficiente neste país, pois elas costumam gastar os recursos em frituras e refrigerantes ao invés de adquirir alimentos saudáveis e nutritivos.

Apesar de a luta contra a fome no mundo ter alcançado importantes resultados, reduzindo o número de pessoas com fome, de quase um bilhão em 1992 para 805 milhões, ainda há gente que passa fome e, sobretudo, é necessário que os alimentos sejam sadios, completos e "apropriados".

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