Agência France-Presse
postado em 20/11/2014 19:26
O presidente americano, Barack Obama, mostrará nesta quinta-feira (20/11) suas cartas, ao apresentar um histórico pacote de medidas, que permitirão tirar da irregularidade quase metade dos 11 milhões de imigrantes em situação ilegal no país.Os decretos que o chefe de Estado se propõe a anunciar poderão beneficiar, no curto prazo, cerca de cinco milhões de imigrantes em situação irregular, a maioria adultos com filhos americanos ou residência autorizada. Obama decidiu assinar os decretos diante da incapacidade da Câmara dos Representantes, a câmara baixa do Congresso, de discutir e votar um projeto de reforma migratória que foi aprovado em 2013 pelo Senado.
A adoção de uma ampla reforma de todo o sistema migratório foi uma promessa central na campanha de Obama para a sua reeleição, em 2012. A proposta motivou na ocasião uma mobilização poucas vezes vista na comunidade hispânica nos Estados Unidos, que foi fundamental para Obama conquistar o segundo mandato.
- Beco sem saída -
Mas o caminho legislativo não teve nenhum resultado, como todas as outras tentativas similares feitas no país desde 1986, quando o então presidente republicano, Ronald Reagan, impulsionou a última grande onda de regularização de imigrantes não autorizados.
No começo deste ano, Obama tinha anunciado sua determinação de usar seus atributos como presidente do Executivo para assinar decretos, caso a Câmara dos Representantes não proceda a discutir e votar uma lei a respeito. Inicialmente, ele adiou este momento para o fim do verão no hemisfério norte e depois decidiu deixar a assinatura para depois das eleições legislativas, celebradas em 4 de novembro.
Com a sólida vitória republicana, Obama se convenceu de que o Congresso não agiria e determinou a preparação dos decretos, para a ira dos líderes da oposição.
"Todo mundo está de acordo em que nosso sistema migratório falhou, infelizmente Washington permitiu que o problema se prolongasse por tempo demais", afirmou Obama em um discurso, publicado pela Casa Branca em sua página no site de relacionamentos Facebook.
- Reação enérgica -
Nesta quinta-feira, o líder do opositor Partido Republicano no Senado, Mitch McConnell, fez um sério alerta a Obama: "(O presidente) deve entender algo. Se (...) impõe sua vontade ao país, o Congresso agirá. Estamos considerando várias opções. Que ninguém se confunda".
Ted Cruz, outro senador republicano, disse que ao assinar os decretos, Obama "não estará agindo como um presidente, mas como um monarca". "É cômico. É o mesmo Partido Republicano que se nega a apoiar uma reforma migratória desde 2006", respondeu o senador democrata Bob Menéndez (que, como Cruz, é de origem cubana).
A peruana Lenka Mendoza, que faz greve de fome há 18 dias em frente à Casa Branca para pedir uma solução para seu caso, disse à AFP que é necessário que Obama "assuma uma posição, ele é o presidente".
Diversas organizações de defesa dos direitos dos imigrantes apresentaram nesta quinta-feira ante a Casa Branca 260 mil petições lembrando a Obama a urgência de "manter sua promessa e usar sua autoridade legal" para fazer algo "grande".
Surpreendentemente, várias das principais emissoras americanas de TV (ABC, NBC e CBS) entraram em acordo para não transmitir ao vivo o discurso de Obama, previsto para as 01H00 GMT (23H00 de Brasília). A CNN confirmou a transmissão e a Fox News expressou a intenção de fazê-lo.
A rede de TV em espanhol Univisión já anunciou que a transmissão da cerimônia dos prêmios Grammy Latinos para a costa leste começará depois do discurso de Obama.