Agência France-Presse
postado em 23/11/2014 13:16
Gort - No ginásio de um pacato povoado do oeste da Irlanda, o brasileiro Jobert Marinho treina duro para aperfeiçoar suas técnicas de MMA e conquistar um título nacional para seu clube. "Sempre gostei de lutas, mas quando me mudei para cá achei que poderia ter oportunidades", explicou à AFP o jovem de 17 anos enquanto se prepara para entrar no ringue do clube de boxe de Gort.Marinho foi viver nessa localidade com sua família há cinco anos, procedente de Goiás, e é um dos 400 brasileiros neste povoado rural irlandês de 2.600 habitantes. Gort é conhecido como "Pequeno Brasil" pelo grande número de brasileiros que chegaram para trabalhar na década de 90 e início dos anos 2000, durante o milagre econômico irlandês, quando um em cada três moradores era brasileiro.
[SAIBAMAIS]A crise financeira irlandesa e o auge econômico do Brasil até 2010 fizeram muitos tomarem o caminho de volta, mas aqueles que ficaram mantêm viva a chama brasileira. "Até os irlandeses aprenderam um pouco de português nas escolas porque os brasileiros conversavam em português o tempo todo", disse Marinho sorrindo.
Ele é um forte candidato ao título do campeonato irlandês amador de MMA e é considerado uma referência no jiu-jitsu que serve de inspiração para outros jovens da localidade. "Um lutador brasileiro tem técnicas diferentes dos de outras nacionalidades, e se você for capaz de aprendê-las, fica cem vezes melhor", explicou o ;sparring; de Marinho, Ruairi Broderick, que tem 22 anos.
O futebol, obviamente, não pode ser deixado de lado como outro ponto de atração exercido pelos brasileiros sobre os irlandeses. O clube local, o Coole FC, tem jogadores irlandeses e brasileiros e exibe em seu escudo as bandeiras de ambos os países. O padre católico Kevin Keenan chegou a celebrar uma missa semanal em português e a mensagem de sua secretária eletrônica está em inglês e português.
Apesar de as missas em português agora serem celebradas uma vez por mês, Keenan mantém sua disposição em integrar cada vez mais os brasileiros. "O que tenho tentado fazer há anos é trazê-los para as missas regulares para que se integrem à comunidade local", explicou.
Como os irlandeses que emigravam
A presença de uma comunidade brasileira tão ampla em um povoado que não tem nada de extraordinário, afastado de qualquer centro econômico importante, tem sua origem em um irlandês de Cork, segunda maior cidade da Irlanda. Jerry O;Callaghan importava carne brasileira quando uma fábrica de Anápolis, em Goiás, fechou.
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Ele ajudou alguns trabalhadores a se instalarem na Irlanda para trabalhar na indústria de carne. E não demorou muito para que outros mais chegassem para atuar na construção, que estava se expandindo. No ápice da onda de imigração, em 2007, havia 1.600 brasileiros em Gort que tinham até seu próprio festival anual de música e dança. "Era como quando os irlandeses emigraram para os Estados Unidos", explicou o administrador do povoado, Gerry Finnerty.
60% brasileira
Os brasileiros matam a saudade da terra natal comprando produtos como feijão e guaraná no mercado Real Brazil. Entre os fregueses está Rosemar da Silva, que trabalhou na indústria da carne e depois na construção antes de ir procurar emprego na Inglaterra quando uma grave crise econômica atingia a Irlanda.
Ele volta para ver sua família com frequência. Sua esposa é eslovaca e seus dois filhos são irlandeses. Atrás do balcão, Elvi Fernandes conta como seu filho de seis anos está aprendendo gaélico na escola e começou a praticar o hurling, um esporte irlandês mais popular do que o futebol.
"Gosto daqui, é tranquilo, melhor para as crianças", disse Elvi, nascida em Brasília. Ela se diz esperançosa de que, algum dia, alguns dos amigos que se foram de Gort possam retornar. O cabeleireiro Marcos Marinho chegou há sete anos para trabalhar com a comunidade brasileira, mas já tem clientes irlandeses e do Leste Europeu.
Sua filha de 18 anos, Thayla, estuda Ciências Empresariais na universidade. "Acho que agora já sou 60% brasileira e 40% irlandesa", explicou a jovem.