Agência France-Presse
postado em 24/11/2014 10:33
Viena- As negociações sobre o programa nuclear iraniano entre as grandes potências e o Irã serão estendidas até 30 de junho devido à falta de acordo entre as partes antes do prazo limite desta segunda-feira (24/11). "Não foi possível obter um acordo na data limite" de segunda-feira, e por isso o prazo será estendido até 30 de junho de 2015, declarou nesta segunda-feira (24/11) em Viena o ministro britânico das Relações Exteriores, Philip Hammond.Já o Irã anunciou que o presidente do país, Hassan Rohani, divulgará sua posição nesta segunda-feira (24/11) às 18h00 GMT (16h de Brasília) em um discurso que será transmitido pela televisão. As negociações entre a República Islâmica e as grandes potências do 5%2b1 (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia, China e Alemanha) prosseguirão segundo os termos do acordo interino assinado em Genebra em novembro de 2013, disse Philip Hammond.
O ministro britânico destacou que o Irã seguirá sendo beneficiado com o desbloqueio de 700 milhões de dólares por mês de seus ativos enquanto as negociações forem mantidas. Pouco antes, uma fonte diplomática ocidental havia indicado que as negociações seriam ampliadas até 1 de julho de 2015. Esse diplomata, que pediu para não ser identificado, explicou que as partes estudam a possibilidade de negociar "um acordo político até 1; de março de 2015" e depois os anexos de uma solução completa "até 1; de julho".
Esse anúncio foi feito no momento em que o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif, e seus colegas do "5%2b1" - o americano John Kerry, o chinês Wang Yi, o francês Laurent Fabius, o britânico Philip hammond, o russo Serguei Lavrov e o alemão Frank-Walter Steinmeier - estavam reunidos pela primeira vez desde o início deste último ciclo de negociações, que começou em 18 de novembro.
Isso significa que uma solução política total ainda não foi encontrada nesta questão, alvo de fortes tensões há 12 anos entre o Irã e as grandes potências. Estas exigem que o Irã reduza suas capacidades nucleares para afastar qualquer provável uso militar. Teerã, que afirma com veemência que seu programa nuclear é estritamente pacífico, reivindica seu direito a instalações nucleares civis completas e exige a retirada das sanções ocidentais que asfixiam a economia do país.
Sete dias de negociações ininterruptas não permitiram aproximar totalmente as posições sobre o enriquecimento de urânio por parte do Irã e das sanções ocidentais contra Teerã, os dois pontos-chave para uma solução política. Durante o fim de semana já se especulava sobre uma eventual prolongação das discussões.
Kerry e Zarif, que na manhã desta segunda-feira (24/11) participaram de sua sétima reunião particular desde quinta-feira (20/11) passada, já haviam falado das diferentes possibilidades sobre a melhor maneira de prosseguir com as negociações. Os observadores consideravam que prolongá-las era uma opção muito delicada politicamente para o presidente moderado iraniano, Hassan Rohani, e para o americano Barack Obama.
Ambos enfrentam o que a analista Kelsey Davenport, consultada pela AFP, chama de "os duros que, tanto em Washington quanto em Teerã, querem sabotar o acordo". As duas partes negociam em virtude de um acordo interino concluído em Genebra em novembro de 2013, que prevê o congelamento de uma parte das atividades nucleares do Irã em troca de um levantamento parcial das sanções internacionais.
No entanto, uma fonte iraniana havia dito que prorrogar as negociações era "o mal menor". O pior seria "um clima de confronto com uma escalada de ambas as partes. Por exemplo, a resposta a novas sanções com um desenvolvimento do programa nuclear", havia declarado a fonte.
Antes do anúncio do novo prazo, a analista Kelsey Davenport considerou que uma demora de vários meses "não teria chance alguma" de êxito. Essa especialista em não-proliferação nuclear da Arms Control Association (Associação para o Controle das Armas em inglês) considera realista "uma curta prolongação para aperfeiçoar os detalhes de um acordo".
Um acordo completo permitiria reativar a economia iraniana, graças a um fim do embargo ocidental ao petróleo da República Islâmica. Também apresentaria perspectivas de normalização entre o Irã e o Ocidente, e inclusive de cooperação em questões sobre os conflitos no Iraque e na Síria. Mas a prolongação das negociações pode fazer o jogo dos que, tanto no Ocidente quanto no Irã, se opõem a uma solução para esta crise.