Agência France-Presse
postado em 26/11/2014 17:39
Washington - Durante 15 anos, ninguém de fora de Maryland se interessou muito pela história de uma estudante originaria da Coreia do Sul que foi morta por seu namorado, filho de imigrantes paquistaneses. Até que surgiu o podcast "Serial".A história real virou fenômeno no mundo virtual, que agora acompanha avidamente o trágico destino da jovem Hae Min Lee. Seu namorado, Adnan Syed, foi condenado à prisão perpétua, apesar de elementos que deixaram dúvidas sobre sua culpa.
Os fãs dizem estar viciados e obcecados com o programa semanal de uma hora de duração. Aqueles que o acompanham desde o início mal podem esperar pelas quintas-feiras, quando novos episódios são colocados no ar. Os retardatários se atualizam escutando episódios antigos.
Já foram realizados mais de 5 milhões de downloads no iTunes, onde o podcast está entre os 10 mais baixados nos Estados Unidos, Canadá, Grã Bretanha, Austrália, Índia, África do Sul e Alemanha. "Serial" também pode ser ouvido no site www.serialpodcast.org.
Quem está falando a verdade
No intervalo entre os episódios, são realizados bate-papos online nas mídias digitais. O site Reddit é um lugar de discussão sobre o podcast, onde blogueiros especulam quem poderia estar falando a verdade e quem estaria mentindo.
"Serial" é um ;spin-off; de "This American Life", uma série de rádio produzida desde 1995 e que conta histórias peculiares e descontraídas.
Seu grande sucesso surpreendeu seus criadores. "Nossa expectativa era de ficar nos reinos sonolentos do mundo do podcast", disse à AFP o produtor sênior Julie Snyder, em uma entrevista por telefone desde Nova York. "Nós esperávamos por números positivos, mas não imaginávamos que seriam tantas pessoas interessadas pelo show, ouvindo e escrevendo sobre ele", disse. "E é internacional. Nós não planejamos isso".
"Serial" surge a partir de uma investigação jornalística, em parte como uma história policial, em parte como novela, com um aceno para o século XIX, como os romances de Charles Dickens e Emile Zola.
Hae e Adnan - todos em "Serial" são chamados pelo primeiro nome pela narradora e jornalista Sarah Koenig - são alunos do colegial que mantiveram seu relacionamento escondido de suas famílias conservadoras de imigrantes.
Nos primeiros episódios, ambos aparecem como adolescentes americanos brilhantes - populares, com boas notas e emprego de meio período, ansiosos pela noite de formatura. Mas, quando o romance chega ao fim, Adnan se enfurece, estrangula Hae e, com a ajuda de um amigo, enterra sua ex-namorada em uma cova rasa, onde um passante a encontra três semanas depois.
Esta foi a versão que promotores apresentaram em um julgamento de 6 semanas que resultou na condenação à prisão perpétua de Adnan na penitenciária de Maryland, onde ele permanece, já com 32 anos.
Koenig reabre o caso, entrevistando testemunhas que às vezes se contradiziam, perseguindo pistas abandonadas e conversando regularmente por telefone com Adnan, que ainda se diz inocente.
Mais uma dose
Um dos fãs de "Serial", Emily Best, uma consultora de arrecadação de fundos para filmes indies, escutou os sete primeiros episódios enquanto dirigia sem parar por todo o estado do Kansas. Quando quinta-feira chegou com o oitavo episódio, ela disse à AFP, por e-mail, "nós acordamos cedo como dependentes químicos à procura de uma dose".
Na Califórnia, o professor Michael Godsey revelou esta semana que está usando ;Serial; no lugar de Shakespeare nas aulas de inglês que leciona em um colégio este semestre. "De fato, está sendo mais divertido, estimulante e efetivo para a aprendizagem do que os textos de Shakespeare, Joyce ou qualquer outro", publicou em seu blog.
Ainda não está claro se o material levará as autoridades judiciais pretendem reabrir o caso baseado nos novos elementos apresentados na ficção, mas Snyder afirma que este não é o objetivo do programa. "Nós dissemos desde o início que não sabemos o rumo da história", acrescentou.
É provável que "Serial" lance 12 episódios no total, mas o produtor adverte: "não sabemos com certeza porque ainda estamos fazendo as reportagens".