Agência France-Presse
postado em 28/11/2014 16:40
Katsina - Ao menos 92 pessoas morreram e mais de 120 ficaram feridas em um triplo atentado a bomba nesta sexta-feira (28/11) contra a Grande Mesquita de Kano, dirigida por um dos principais líderes muçulmanos da Nigéria, que apelou recentemente à população para se defender dos ataques do Boko Haram.O balanço inicial de mortos era de 64, mas um repórter da AFP contou 92 corpos enviados ao necrotério do hospital da cidade. Três bombas explodiram no corredor da Grande Mesquita e em uma rua adjacente, pouco após o início da tradicional oração das sextas-feiras.
O ataque teria sido cometido por dois suicidas e homens armados, segundo a polícia. A mesquita está localizada ao lado do palácio do emir de Kano, Mohammed Sanusi II, o segundo mais importante líder muçulmano da Nigéria. Primeiramente, houve um duplo atentado suicida na grande mesquita e, em seguida, homens armados atiraram contra as pessoas que tentavam fugir, segundo indicou o porta-voz da polícia nigeriana, Emmanuel Ojukwu.
Entre os cerca de quinze homens armados, quatro foram mortos pela multidão e os demais conseguiram fugir. "Duas bombas explodiram uma após a outra no interior da mesquita, poucos segundos após o início das orações", relatou à AFP Aminu Abdullahi, um fiel que estava no local. "Uma terceira bomba explodiu em uma rua próxima", acrescentou.
Um dos hospitais de Kano já recebeu 64 corpos e 126 feridos foram contabilizados em três hospitais, indicou um membro dos serviços de emergência, que alertou que o número de vítimas deve aumentar. Foi nesta mesquita que, na semana passada, o emir chamou a população do norte do país a pegar em armas contra os islamitas do Boko Haram, criticando a incapacidade do exército nigerianos de defender os civis dos insurgentes.
Personalidade influente
É raro líderes religioso assumirem publicamente uma posição sobre questões políticas e militares, mas muitos nigerianos esperavam que Sanusi Lamido Sanusi - como é conhecido na cidade - desafiasse as convenções e se envolvesse no debate. O emir de Kano é uma figura muito influente na Nigéria, que tem mais de 80 milhões de muçulmanos (a maioria vive no norte), com uma população total de 170 milhões.
Oficialmente, sua autoridade vem logo após a do sultão de Sokoto, considerado o líder dos muçulmanos nigerianos, que também lançou na segunda-feira duras críticas contra o exército. Antes de ser nomeado emir em junho, Sanusi ocupava o cargo de governador do Banco Central da Nigéria.
Ele foi afastado do cargo em fevereiro pelo presidente Goodluck Jonathan, pouco depois de denunciar o desvio de 20 bilhões de dólares de fundos públicos pela companhia nacional de petróleo. Kano, a maior cidade do norte da Nigéria, com 10 milhões de habitantes, tem sido frequentemente palco de ataques do Boko Haram.
O ex-emir de Kano, Ado Bayero Abdullahi, sobreviveu a várias tentativas de assassinato do grupo islâmico, bem como o sultão de Sokoto e o shehu de Borno, outro líder muçulmano importante. O Boko Haram acusa os líderes muçulmanos nigerianos de trair a religião, submetendo-se a autoridade do governo nigeriano.
O ataque triplo em Kano ocorre no momento em que milícias locais frustraram outro ataque em Maiduguri, capital do estado de Borno (nordeste) e ex-reduto da insurgência islâmica. Vários explosivos foram encontrados e desativados pela polícia no distrito de Gamboru pouco antes das orações de sexta-feira.
Um explosivo acabou explodindo sem causar vítimas, e obrigou a polícia a isolar a área. "É claro que é obra do Boko Haram, porque nos últimos dias, mulheres-bomba foram presas na cidade", segundo Babakura Adam, membro da milícia à AFP.
O ataque do grupo a Damasak (nordeste), na fronteira com Níger, na segunda-feira, deixou 50 mortos e provocou a fuga de 3.000 pessoas para o país vizinho. O ataque pode ser uma represália pela adesão de jovens desta cidade aos grupos de autodefesa constituídos para combater os radicais.
Na terça, a cidade de Maiduguri foi atingida por um duplo atentado suicida que matou pelo menos 45 pessoas. A violência do Boko Haram e sua repressão pelas forças de segurança fizeram 13.000 mortos e 1,5 milhões de deslocados desde 2009.