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Farc libertam general e mais dois reféns na Colômbia

Libertação faz parte do processo de paz com a guerrilha

postado em 30/11/2014 16:31
Bogotá - As Farc libertaram neste domingo (30/11) na Colômbia um general do exército e outras duas pessoas, que haviam sido sequestrados em circunstâncias confusas, abrindo o caminho para a retomada do processo de paz com a guerrilha. O general Rubén Alzate, o cabo Jorge Rodríguez e a advogada Gloria Urrego, sequestrados em 16 de novembro pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) no departamento de Chocó (noroeste), foram entregues a uma missão humanitária e serão levados para uma unidade militar.

"Libertados BG Alzate, advogada Urrego e cabo Rodriguez em perfeitas condições e esperando condições climáticas para o retorno a suas famílias", escreveu o presidente Juan Manuel Santos em sua conta no Twitter.

O presidente exigia estas libertações como quesito fundamental para restaurar as negociações com as Farc. Santos, no entanto, defendeu neste domingo sua estratégia de negociar com as Farc sem declarar uma trégua no país.

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"Tenho a convicção de que negociar em meio ao conflito é a melhor maneira de preservar os elementos essenciais do Estado e evitar que as conversações se convertam num exercício interminável", afirmou Santos em um comunicado após a libertação de Alzate e dos outros reféns.

As chuvas na remota região de Chocó, a mais pobre da Colômbia, complicaram as operações supervisiondas pelo comandante guerrilheiro Pastor Alape, negociador da paz em Havana e comandante do bloco Iván Ríos, que viajou por ordem do chefe máximo da guerrilha, Timoleón Jiménez.

Autoridades políticas e militares também participaram na coordenação da operação, que teve a participação de delegados do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), e representantes de Cuba e Noruega, mediadores dos diálogos de paz que acontecem em Cuba.

Alzate, o oficial de maior patente sequestrado pelas Farc em 50 anos de conflito armado, foi retido com seu assistente e a assessora de projetos especiais do exército durante um deslocamento à paisana, sem escolta, perto da capital regional Quibdó.

Os três são aguardados por suas famílias. Alzate, um experiente e condecorado general de 55 anos, deverá prestar explicações ao Congresso sobre as razões da aparente violação das regras básicas de segurança.

A captura do general de seus acompanhantes provocou a interrupção das negociações de paz com as Farc, iniciadas há dois anos sem um cessar-fogo. As conversações pretendem acabar com o conflito armado mais antigo do continente, que provocou oficialmente 220.000 mortes e deixou 5,3 milhões de deslocados.

Regras do jogo

Em Havana, as Farc buscaram "redesenhar as regras do jogo" nas negociações, para que nenhum acontecimento bélico nos campos de combate pudessem justificar uma nova interrupção. "É hora do cessar-fogo bilateral, do armistício", afirmaram.

A insólita captura do general e seus companheiros, que tem intrigado a Colômbia, levou à suspensão das negociações, destinadas a acabar com o conflito armado mais antigo do continente, que já deixou oficialmente 220 mil mortos e 5,3 milhões deslocados.

Como uma prova de seu compromisso com a paz, a principal guerrilha da Colômbia, com aproximadamente 8 mil combatentes, já havia libertado na terça-feira dois soldados capturados em 9 de novembro, após combates em Arauca, operação que recebeu o comandante Carlos Antonio Losada, de Cuba, segundo indicou o grupo insurgente neste domingo.

A cientista política Angelika Rettberg, autora do livro "Construcción de paz en Colombia", atribuiu a agilidade e rapidez com que aconteceram as libertações ao interesse do governo e da guerrilha em evitar uma escalada da crise.

Contudo, após o retorno de Alzate e seus companheiros, nada será igual nas negociações, suspensas desde o dia 2 de novembro e que deveriam ter sido retomadas no dia 18 do mesmo mês.

"É difícil que o processo de paz possa ser reafirmado como se nada houvesse acontecido", disse à AFP Christian Voelkel, analista para a Colômbia do International Crisis Group (ICG), uma ONG especializada na resolução de conflitos. "A longo prazo, este episódio será sentido em Havana", destacou.

Timoleon Jimenez já havia feito este alerta na semana passada, quando afirmou que "as coisas não serão retomadas dessa forma, serão necessárias diversas considerações".

A guerrilha também aproveitou para reclamar por rebeldes presos, indicando que espera que esta libertação estenda seus efeitos benéficos ao prisioneiros políticos e sociais do país.

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