postado em 05/12/2014 10:30
Johannesburg - Os sul-africanos recordaram nesta sexta-feira (5/12) o primeiro aniversário da morte de Nelson Mandela com um serviço religioso e uma partida de críquete, honrando seu legado como defensor da luta contra o apartheid.
O serviço ecumênico aconteceu durante a manhã em uma colina de Pretória dedicada aos combatentes da luta contra a segregação racial. Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama prestou homenagem a Nelson Mandela, ressaltando que o líder africano será uma fonte de inspiração para as futuras gerações.
"Há um ano o mundo perdia um líder cuja luta e sacrifícios nos inspiraram, cujo exemplo nos lembra a permanente necessidade de compaixão, compreensão e reconciliação, e cuja visão era carregada com a promessa de um mundo melhor" declarou presidente dos Estados Unidos em um comunicado.
Ron Martin, chefe da comunidade khoisan, realizou ao amanhecer um ritual dedicado aos ancestrais da África do Sul, queimando ervas dentro de um chifre de kudu, um antílope africano.
[SAIBAMAIS]Após essa cerimônia, foram realizadas orações cristãs, hindus, muçulmanas, judaicas e até rastafáris, seguindo um espírito ecumênico que reflete a diversidade das comunidades do país e a universalidade da luta antirracista do ex-presidente Mandela. "A vida de nossos ancestrais é o pilar de nossa sabedoria", disse Ron Martin.
"Estes vinte anos de democracia foram possíveis graças a Mandela. Antes do advento da democracia (em 1994), não podíamos praticar nossa religião", explicou. "O sentido de qualquer tipo de orgulho foi quebrado pelo apartheid, mas agora estamos recuperando nossa herança", acrescentou.
Veteranos da luta antiapartheid participaram de uma cerimônia durante a qual foi colocada uma coroa de flores na base de uma estátua de cinco metros de um sorridente Madiba, o nome do clã pelo qual os sul-africanos chamam carinhosamente o filho favorito de sua nação.
Já Graça Machel, viúva do prêmio Nobel da Paz, tomou a palavra, vestida de preto e com uma estola dourada no ombro. "Eu sei que Madiba está bem acompanhado (...) Este pensamento me apoiou ao longo de todo este ano", disse na sede do governo, para onde se dirigiu após a cerimônia.
"Tive o privilégio singular de ser o ombro no qual se apoiou no crepúsculo de sua vida, e serei eternamente grata por ter me escolhido", disse Graça Machel. Na ausência do presidente Jacob Zuma, que atualmente visita Pequim, a cerimônia foi realizada no Freedom Park de Pretória, um memorial construído recentemente com pedras provenientes de diferentes locais da África do Sul onde os mártires da liberdade morreram.
Durante três minutos e sete segundos, ouviu-se o barulho dos sinos das igrejas, de buzinas, vuvuzelas e sirenes, e depois houve os três minutos de silêncio, simbolizando os 67 anos de ação política de Mandela, 27 dos quais passou na prisão.
Exemplo a seguir
O arcebispo emérito Desmond Tutu, também premiado com o Nobel da Paz, pediu que os sul-africanos sigam o exemplo de Mandela em um comunicado destinado a lembrar o aniversário de sua morte. "Nossa obrigação com Madiba é continuar construindo a sociedade que ele queria, seguir seu exemplo", afirmou Tutu.
"Uma sociedade baseada nos direitos humanos, na qual todos possam compartilhar a grande abundância que Deus concedeu ao nosso país, na qual todos possamos viver com dignidade, juntos. Uma sociedade com um amanhã melhor para todos", acrescentou Tutu.
O vice-presidente Cyril Ramaphosa liderou os três minutos de silêncio, que foram seguidos por uma partida amistosa de críquete, chamada de Copa Legado Mandela.
Muitas atividades e iniciativas locais estão previstas para este fim de semana e ao longo de toda a próxima semana na África do Sul, mas nada oficial em Qunu, a aldeia onde o ex-presidente passou sua infância e onde está enterrado.
Durante o fim de semana, artistas e atores participarão de uma homenagem na Fundação Nelson Mandela, que lançou uma exposição em homenagem ao ex-presidente. No entanto, esta unanimidade que fez aumentar o número de visitantes nos museus dedicados a Mandela depois de sua morte, assim como em sua casa de Soweto, apresentou algumas rachaduras.
"É preciso estar louco por Mandela?", perguntou-se nesta semana Sisonke Msimang, uma conhecida editorialista do jornal on-line Daily Maverik.
"Mandela fez o que nós precisávamos no início dos anos 90. Atualmente está claro que precisamos de um novo caminho (...). Uma das lições mais dolorosas das duas últimas décadas é perceber que a pobreza continua sendo em grande medida o destino dos negros, muitos sul-africanos brancos não acreditam que seja consequência do apartheid", afirmou.
O famoso líder sul-africano faleceu em 2013 aos 95 anos, depois de uma longa doença.