Agência France-Presse
postado em 06/12/2014 20:27
As negociações que devem estabelecer as bases para um novo pacto mundial contra o aquecimento global em 2015 têm tido poucos avanços na conferência da ONU (COP20), em Lima, criticaram neste sábado membros de ONGs que participam como observadores do evento, enquanto bispos católicos pediram ação para combater as mudanças climáticas, que geram pobreza e aumentam as injustiças no mundo."Tem havido muitas partidas falsas desde o início da semana, especialmente discussões sobre o procedimentos", questionou Tasneem Essop, porta-voz do Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla em inglês), para quem "os negociadores ainda não compreenderam que estas discussões têm uma urgência planetária".
Segundo Essop, foram apresentadas duas concepções visando ao futuro acordo que deve ser alcançada em Paris no final de 2015: "uma centrada nos esforços de redução dos gases de efeito estufa" e outra "mais global, que compreende as questões de adaptação (às mudanças climáticas), compromissos financeiros, perdas e danos".
"O Protocolo de Quioto se concentrou na redução de gases de efeito estufa (dos países desenvolvidos), mas para o acordo futuro, os países em vias de desenvolvimento querem que as medidas de adaptação" aos impactos do aquecimento global "sejam incluídas", destacou Meena Raman, da organização Red del Tercer Mundo.
Já para Alix Mazounie, da Rede de Ação Climática, da França, "as negociações não começaram de verdade. Apesar de um novo tufão nas Filipinas, apesar de 2014 ameaçar ser o ano mais quente já registrado, o sentimento de urgência não apareceu até agora", lamentou.
A COP20, que se celebra em Lima até 12 de dezembro, busca alcançar um esboço do acordo contra o aquecimento que a comunidade internacional deve adotar na cúpula climática de Paris em 2015.
As discussões deverão se acelerar na próxima semana com a chegada dos ministros de Estado entre terça e quarta-feira.
Apesar do impulso político dado às discussões pelo recente acordo entre os Estados Unidos e a China para reduzir emissões de carbono e um anúncio no mesmo sentido de parte da Europa, as negociações continuam empacadas em vários pontos centrais: que responsabilidade histórica devem assumir os países industrializados no aquecimento global? Qual é o financiamento que os países do norte podem garantir para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas? Quais medidas podem ser adotadas para reforçar a ação do mundo até 2020, quando o novo acordo deve entrar em vigor?
Apelo eclesiástico
Bispos católicos reunidos em Lima advertiram que as mudanças climáticas geram pobreza e fazem crescer as injustiças no mundo e pediram à liderança da COP20 que enfrente este flagelo.
"As mudanças climáticas criam pobreza e fazem crescer a injustiça. Por isso, estamos pedindo para reverter esta situação com a urgência que a realidade exige", destacou a Conferência Episcopal peruana (CEP) em um comunicado.
Bispos de Brasil, Peru, Bangladesh, França e África do Sul se reuniram com o presidente da COP20 e com o ministro peruano do Ambiente, Manuel Pulgar Vidal, e representantes diplomáticos de França, Alemanha, Reino Unido, Itália, Chile e Bolívia, com os quais dialogaram sobre os impactos das mudanças climáticas em diferentes regiões do mundo, indicou a CEP.
Durante a reunião, os bispos pediram para a comunidade internacional "promover um estilo de vida simples e austero e melhores práticas para a adaptação às mudanças climáticas".
Os bispos de África do Sul, Anton Sipuka, e da França, Marc Stenger, destacaram que "é tempo de tomar decisões e responsabilizar quem decide as políticas que têm a ver com o cuidado com o meio ambiente no mundo".
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"O que vemos agora não é uma tragédia, mas um drama que requer fé e coragem de todos para trabalhar unidos", coincidiram os religiosos.
Os bispos católicos, assim como líderes de outros credos e grupos inter-religiosos, destacam que os governos devem dispor de recursos específicos para proteger os mais pobres dos efeitos das mudanças climáticas.