Agência France-Presse
postado em 09/12/2014 12:53
Donetsk- A trégua nos combates decretada nesta terça-feira (9/12) na Ucrânia era amplamente respeitada pelos separatistas pró-russos e as forças ucranianas, mas as negociações de paz em Minsk para acabar com oito meses de conflito foram adiadas.O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, disse nesta terça-feira que o cessar-fogo parecia resistir. "Não temos nem um único disparo, não temos nem um soldado morto", disse Poroshenko durante discurso em Cingapura.
O ministério ucraniano das Relações Exteriores ucraniano informou que as negociações com os rebeldes, com participação de emissários russos e europeus em Minsk, capital de Belarus, foram prorrogadas por tempo indeterminado.
"Hoje não haverá nada", disse à AFP o porta-voz da diplomacia ucraniana, Evguen Perebyinis. A nova data será decidida nesta quarta-feira em videoconferência, destacou à AFP Denis Pushilin, presidente do Parlamento da autoproclamada República Popular de Donetsk. O dirigente acrescentou que o encontro pode ser celebrado "esta semana".
Segundo ele, os separatistas pedem a suspensão do "bloqueio econômico" na zona sob controle rebelde, que Kiev deixou de financiar. Também querem uma troca de prisioneiros e a aplicação de duas leis ucranianas que preveem anistiar certos combatentes rebeldes e dar mais autonomia ao território sob seu controle.
No terreno, jornalistas da AFP destacaram que os combates na cidade de Donestk, controlada pelos insurgentes, foram suspensos repentinamente na madrugada, depois de uma noite de tiros de artilharia, e que desde então só foi ouvido a explosão de um projétil.
Em outra demonstração de calma, o chefe dos guardas de fronteira ucranianos informou, via Twitter, que as tropas russas estacionadas na fronteira entre a Crimeia, anexada em março pela Rússia, e o resto da Ucrânia tinham começado a se retirar.
Um combatente do movimento paramilitar ultranacionalista Pravy Sektor, situado na cidade de Pisky, perto do aeroporto de Donestk, disse à AFP que o mesmo sofreu alguns disparos de artilharia pesada.
Se for respeitado, o cessar-fogo terá que ser seguido de uma retirada de armas pesadas da linha de frente. Os líderes ucranianos pró-ocidentais precisam que haja tranquilidade no leste para poder se concentrar nas reformas econômicas, há muito adiadas, destinadas a tirar o país da bancarrota e abrir a via para a chegada de mais ajuda internacional.
Uma equipe do Fundo Monetário Internacional deve chegar a Kiev nesta terça-feira para avaliar a aplicação das medidas de austeridade, profundamente impopulares, exigidas pelo FMI em troca de 17 bilhões de dólares de ajuda de emergência.
Quanto às demais reivindicações rebeldes, a de maior autonomia ao território sob seu controle parece indicar uma mudança significativa na posição dos rebeldes, que rejeitaram as normas após a sua adoção, em setembro, argumentando que as leis ucranianas não seriam cumpridas no território das duas autoproclamadas repúblicas.
O presidente Poroshenko, por sua vez, declarou em Cingapura que o país está pronto para "interromper a hemorragia", mas não ao custo de abrir mão da liberdade, democracia, soberania e independência. Também disse que o conflito não é uma guerra da Ucrânia apenas, mas uma "guerra pela liberdade, pela democracia, pela Europa".