Os médicos, enfermeiros e demais trabalhadores do setor de saúde que combatem a epidemia de Ebola na África Ocidental foram escolhidos como personalidade do ano de 2014 pela revista americana Time.
"Por seus incansáveis atos de valentia e piedade, por fazer o mundo ganhar tempo para que melhore suas defesas, por arriscar, por persistir, por se sacrificar e salvar, os lutadores contra o Ebola são a personalidade do ano 2014 para a Time", indicou a revista.
Em 2013, a Time havia escolhido o papa Francisco, o primeiro latino-americano e argentino a chegar ao posto máximo da Igreja católica em março daquele ano.
Embora a Time tenha escolhido agora a figura simbólica dos "lutadores contra o Ebola", a revista menciona, em particular, "as forças especiais da organização Médicos Sem Fronteiras, os trabalhadores da associação de ajuda humanitária cristã Samaritan;s Purse e muitos outros de todo o mundo que combateram lado a lado com médicos e enfermeiros locais, motoristas de ambulância e equipes de coveiros".
A epidemia de febre hemorrágica do Ebola provocou 6.331 mortes entre os 17.800 casos de contágio detectados nos três países mais afetados da África Ocidental (Serra Leoa, Libéria e Guiné) até 6 de dezembro, segundo o balanço mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Devido à forma de contágio da doença, os médicos e enfermeiros que tratam os infectados têm um alto risco de contrair o Ebola.
Por isso, centenas de trabalhadores da saúde morreram nos três países africanos mais atingidos pela epidemia. Em Serra Leoa, por exemplo, dos 12 médicos que contraíram Ebola apenas dois sobreviveram.
Sem precedentes
O ebola "atingiu médicos e enfermeiros em números sem precedentes, afetando infraestruturas de saúde pública que já eram frágeis", afirmou neste sentido a editora Nancy Gibbs no site da Time.
"Em um dia de agosto na Libéria seis mulheres grávidas perderam seus bebês porque os hospitais não podiam admiti-las por complicações. Qualquer pessoa que tratou vítimas de Ebola correu o risco de se converter em uma delas", explicou.
A designação dos trabalhadores de saúde foi acompanhada de uma crítica aos governos africanos que "não estavam equipados para responder" e à própria Organização Mundial da Saúde, que estava em situação de negação e "emaranhada em trâmites burocráticos".
Entre os finalistas deste ano estavam, entre outros, o presidente russo Vladimir Putin e os manifestantes de Ferguson (Missouri, centro-sul dos Estados Unidos), onde a morte de um jovem negro abatido por um agente branco em um incidente confuso provocou violentos protestos para denunciar a impunidade policial e o racismo.
A designação da "personalidade do ano" é uma tradição anual da revista Time desde 1927. A figura escolhida aparece na capa da edição de fim de ano da publicação. Em 2012, o presidente americano Barack Obama, que acabara de ser reeleito, foi escolhido personalidade do ano.
Um ano antes, a Time escolheu a figura do "manifestante" como personalidade de 2011, em um reconhecimento às pessoas de todo o mundo, em particular do Oriente Médio e norte da África, que saíram às ruas para lutar por seus direitos na denominada "Primavera Árabe".