postado em 11/12/2014 13:27
Damasco - Em meio ao caos provocado por quase quatro anos de guerra civil na Síria, Damasco é palco de uma feira de Saúde e Beleza em um país onde mais da metade das pessoas vivem na extrema pobreza."É como se a guerra durasse cem anos. Todos os dias há mortos, desaparecidos. Isso é ruim", queixa-se Loubana Mourched, uma mulher 30 anos, ostentando uma pesada maquiagem e joias. Para esquecer o que está acontecendo, "gosto de me cuidar, de cuidar da minha pele, da maquiagem", conta. "O que vem acontecendo no país nos dá rugas, parecemos mais velhas", afirma.
Mourched percorre os stands testando cremes, maquiagem e tratamentos estéticos que estão à disposição das sírias que ainda têm tempo e dinheiro para pensar em beleza.
"A questão da beleza é fundamental. Sempre haverá mulheres que compram sem olhar os preços", disse Nabil Mourtada, diretor de uma empresa que comercializa cremes elaborados com ouro e caviar.
Ele decidiu participar da feira porque o mercado sírio continua sendo atraente, apesar da guerra civil que causou mais de 200.000 mortes e obrigou cerca de 6,5 milhões de pessoas a deixarem suas casas, sendo que mais de 3 milhões fugiram para países vizinhos.
Três em cada quatro sírios vivem na pobreza e mais da metade (54,3%), na extrema pobreza, segundo um relatório da ONU apresentado em maio.
Tratamento psicológico
Em um contexto de inflação galopante (178% em três anos), as vendas de cosméticos estavam estagnadas desde o início da guerra. Mas "neste ano subiram, já que as pessoas se acostumaram com o aumento dos preços", declara Mohamad Meibar, diretor de vendas de várias marcas de cosméticos.
Iman Osman, uma esteticista com dez anos de experiência, confirma que os negócios vão bem. "A crise não afetou nosso trabalho porque as mulheres estão dispostas a tudo para manter a beleza", conta.
Johnny Bachour, diretor de vendas de uma empresa especializada em implantes de silicone e em injeções de Botox, também está otimista. "As clientes querem parecer mais jovens, querem se sentir bem para ganhar confiança", diz.
A vendedora Racha Ghoneim afirma que as vendas de Botox de sua companhia cresceram 30% em comparação ao ano passado. "Aquelas que gostam de maquiagem continuarão usando", afirma Leila, que tem uma loja de produtos de beleza em Mazraa, um bairro do centro de Damasco.
Ihab al-Nawaquil é diretor de marketing de uma empresa que vende suplementos alimentares americanos para a pele e cabelos. Sua companhia "decidiu permanecer no mercado sírio", prevendo que "a crise não seria um obstáculo", porque "os sírios são um povo cheio de vida", explica.
Sentada em um salão de beleza, Siham considera que os cuidados estéticos são uma forma de tratamento psicológico em meio às atrocidades da guerra. "A destruição não deve afetar nossas almas", afirma essa dona de casa que vive no subúrbio da capital.