Agência France-Presse
postado em 11/12/2014 20:44
A Agência Central de Inteligência (CIA) não estava preparada para interrogar suspeitos na guerra contra o terror deflagrada após os atentados de 11 de setembro de 2001, e fez uso de métodos de interrogatório detestáveis, afirmou nesta quinta-feira o diretor da agência americana, John Brennan.Ao comentar a divulgação de um relatório constrangedor sobre o uso da tortura na agência, Brennan admitiu: "Não estávamos preparados. Tínhamos pouca experiência em abrigar prisioneiros e muitos poucos de nossos funcionários estavam treinados para fazer interrogatórios".
Brennan reconheceu que a CIA utilizou métodos de interrogatório detestáveis e também que a agência era inexperiente em relação à detenção de suspeitos.
"Em muitos aspectos, a CIA navegou em águas desconhecidas; não estávamos preparados. Tínhamos pouca experiência na detenção de suspeitos e poucos agentes foram formados para interrogar", reconheceu.
Mas o diretor garantiu que a CIA não enganou o público sobre o uso de torturas.
"Em um número limitado de casos, funcionários da agência usaram métodos de interrogatório que não eram autorizados, que eram detestáveis e que devem ser repudiados por todos", acrescentou.
Brennan também disse ser "impossível saber" se a tortura usada contra supostos membros da Al-Qaeda permitiu à agência obter informações úteis para evitar futuros atentados, mas acrescentou que a CIA se reformulou para evitar a repetição destes atos.
Há dois dias, quando foi divulgado o relatório, Brennan garantiu que a aplicação dos métodos brutais "produziram informação de inteligência que ajudaram a impedir ataques, capturar terroristas e salvar vidas".
O relatório elaborado pelo Comissão de Inteligência do Senado americano revelou que após o 11 de Setembro a CIA submeteu dezenas de detentos vinculados à Al-Qaeda a torturas brutais e ineficazes.
Segundo o documento, a CIA criou um programa secreto para capturar e interrogar, fora do âmbito legal, suspeitos de vínculo com a Al-Qaeda; e que o governo republicano de George W. Bush estava a par dos procedimentos ilegais adotados como parte da "guerra ao terror".
Bush foi informado da situação em abril de 2006, ou seja, após quatro anos do início do programa que utilizava prisões secretas da CIA.
O relatório descreve como os detidos permaneciam amarrados durante dias na escuridão, eram submetidos a banhos gelados, privados de sono durante uma semana, espancados e ameaçados psicologicamente. Um detento foi ameaçado com uma furadeira. Ao menos cinco sofreram o que o relatório descreve com o eufemismo de "reidratações retais".
O documento também acusa a CIA de ter apresentado "informação incorreta" entre 2002 e 2007 ao Departamento de Justiça sobre o alcance e os efeitos da tortura, assim como impedir que o Congresso pudesse supervisionar a aplicação deste método de interrogatório.
A Rússia reagiu ao relatório afirmando que trata-se de uma denúncia "chocante" sobre a prática de tortura por parte da CIA, e pediu a Washington que divulgue outras informações sobre violações de direitos humanos.
As autoridades russas aproveitaram a oportunidade para dizer que seu velho inimigo da Guerra Fria não é "um exemplo de democracia". "Esta situação não se encaixa nas pretensões dos Estados Unidos ao título de ;modelo de democracia;", disse o enviado para os Direitos Humanos do ministério russo das Relações Exteriores, Konstantin Dolgov.
O funcionário acrescentou que a maior parte do relatório segue confidencial e pediu aos militantes que defendem os direitos Humanos para que pressionem os Estados Unidos a divulgar todas as informações sobre as violações cometidas no contexto da "guerra ao terror" lançada por Washington.
Segundo o documento, 119 pessoas foram capturadas e mantidas em prisões secretas da CIA em diferentes países - nunca identificados - muito provavelmente Tailândia, Afeganistão, Romênia, Polônia e Lituânia, entre outros.