Agência France-Presse
postado em 17/12/2014 22:00
Washington - O processo para normalizar as relações entre Estados Unidos e Cuba, anunciado nesta quarta-feira, começou com absoluta discrição na primavera boreal de 2013 e foi acelerado no ano passado com a intervenção pessoal do Papa Francisco.O presidente americano, Barack Obama, autorizou o início das negociações secretas com o governo cubano com o objetivo de avaliar a situação para restabelecer as relações bilaterais, que se materializaram com o primeiro encontro entre ambas as partes em junho de 2013, explicou à imprensa uma fonte que pediu para não ser identificada.
Durante o ano seguinte e até o mês passado, Washington e Havana levaram adiante suas negociações, principalmente no Canadá, mas também usaram as Seções de Interesse que cada país tem nos Estados Unidos e Cuba e as respectivas missões diplomáticas na ONU.
Leia mais notícias em Mundo
Mas foi a intervenção de Francisco, o primeiro Papa latino-americano, que impulsionou as negociações bilaterais, um papel que Obama destacou em seu discurso sobre a aproximação histórica à ilha governada por Raúl Castro.
"Quero agradecer à Sua Santidade, o Papa Francisco, cujo exemplo moral nos mostra a importância de buscar o mundo que deveríamos ter, ao invés de nos contentarmos com o mundo que temos", disse o mandatário americano.
Obama e Francisco se encontraram em março, no Vaticano, quando as negociações já haviam começado, e abordaram, entre muitos outros temas, a questão cubana.
"O Papa entendeu que o presidente Obama está comprometido com esta série de mudanças", disse uma fonte governamental americana.
A diplomacia de um Papa latino
Após este encontro no Vaticano, Francisco mandou, neste verão boreal, uma carta à Obama e Castro "convidando-os a resolver questões humanitárias de interesse mútuo, como a situação de alguns detidos, para dar início a uma nova fase das relações entre as duas partes".
Esta iniciativa, que segundo Washington não tem precedentes, foi decisiva. "Reforçou o impulso e a força para seguir adiante", de acordo com outro funcionário americano, que destacou a importância da origem latino-americana do Papa neste processo.
Em outubro, as duas delegações voltaram a se reunir no Vaticano na presença de funcionários católicos com o objetivo de fechar acordos sobre a normalização de suas relações, principalmente o intercâmbio de presos.
Embora o Canadá tenha acolhido a grande maioria das reuniões, o Vaticano foi "o único governo que participou das negociações", apontou Washington.
O primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, não forneceu nenhum detalhe sobre os encontros secretos, mas nesta quarta-feira disse que seu país "se alegrou em ser o anfitrião de altos dirigentes dos Estados Unidos e Cuba, o que lhes permitiu manter importantes negociações em um ambiente de discrição necessária".
O êxito da diplomacia vaticana é também o resultado de uma larga mediação com a Igreja cubana nos recentes processos para promover a democracia na Ilha, após as visitas de João Paulo II, em 1998, e de Bento XVI, em 2012.
Ambos os pontífices apostaram pelo pragmatismo e pelo diálogo com o regime comunista cubano.
O Vaticano também teve um papel-chave na crise dos mísseis, em 1962, quando o Papa João XXIII interviu para impedir uma guerra nuclear.
"O Santo Padre está muito contente pela histórica decisão dos governos dos Estados Unidos da América e de Cuba de estabelecer relações diplomáticas com o objetivo de superar, por interesse dos respectivos cidadãos, as dificuldades que marcaram sua história recente", disse o Vaticano.
Francisco pretende visitar oficialmente os Estados Unidos em setembro de 2015.