Agência France-Presse
postado em 20/12/2014 17:43
Cuba tem a "disposição" de dialogar sobre qualquer tema com os EUA, apesar das grandes diferenças entre os dois países - afirmou neste sábado o presidente cubano, Raúl Castro, um dia depois do colega americano, Barack Obama, dizer que "as mudanças chegarão" à ilha, mas não da noite para o dia.[SAIBAMAIS]Raúl comentou, ainda, que foi eliminado um "obstáculo" nas relações entre Havana e Washington com os históricos acordos alcançados com o presidente Obama para restabelecer laços diplomáticos após meio século de afastamento.
"Reiteramos nossa disposição ao diálogo respeitoso e recíproco sobre as discrepâncias. Temos firmes convicções e muitas preocupações com o que acontece nos Estados Unidos no campo da democracia e dos direitos humanos", disse o presidente cubano, destacando, que apesar dos acordos, continue em vigor o embargo americano imposto à ilha em 1962.
Raúl pediu aos Estados Unidos que respeitem a soberania cubana. "Cuba é um Estado soberano, cujo povo (...) decidiu pela via socialista e por um sistema político econômico e social. Da mesma forma que nunca propusemos que os Estados Unidos mudem seu sistema político, exigiremos respeito pelo nosso", frisou o presidente cubano ao Parlamento.
"Aceitamos conversar (...) sobre qualquer tema, sobre tudo o que queiram discutir daqui, mas também dos Estados Unidos", acrescentou Raúl Castro, ao encerrar a sessão semestral do Parlamento cubano, três dias depois do anúncio da reconciliação com os Estados Unidos, comemorada pelo mundo inteiro.
Também assistiram à sessão outros dois agentes libertados anteriormente após cumprir suas sentenças, René González e Fernando González, assim como Elián González, o menino que foi protagonista de uma disputa entre Washington e Havana em 1999-2000. Agora, o "menino" Elián tem 21 anos.
;Não ignoramos críticas a Obama;
Raúl Castro, que introduziu reformas econômicas de mercado, mas repudia acabar com o unipartidarismo, destacou que "entre os governos dos Estados Unidos e Cuba há profundas diferenças que incluem, entre outras, várias concepções sobre o exercício da soberania nacional, a democracia, os modelos políticos e as relações internacionais".
No entanto, ele agradeceu a Obama por dar esse histórico passo, que foi criticado por alguns setores americanos e por líderes do exílio anticastrista mais duro, embora recebido com beneplácito por boa parte dos emigrados em Miami, onde se concentra a diáspora cubana.
"Não ignoramos as virulentas críticas que o presidente Obama precisou suportar (...) de parte de forças que se opõem ao restabelecimento de relações", admitiu.
"O povo cubano agradece a essa justa decisão do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Com isto, eliminou-se um obstáculo nas relações entre os nossos países", completou.
Castro disse que os acordos - mediados em sigilo pelo papa Francisco, com o apoio do Canadá - são "um passo importante", mas continua em vigor o embargo econômico, que até agora causou à ilha prejuízos de mais de US$ 100 bilhões, segundo Havana.
"Foi dado um passo importante, mas resta resolver o essencial, que é o fim do embargo econômico comercial e financeiro contra Cuba", afirmou o governante comunista, destacando que as sanções foram "reforçadas nos últimos anos, particularmente no âmbito das transações financeiras".
Isto afetou não somente Cuba, mas também bancos estrangeiros que operam nos Estados Unidos, que foram sancionados por Washington com multas milionárias, lembrou Raúl.
Flexibilizar as sanções à ilha
"Esperamos que o presidente use suas prerrogativas executivas (...) naqueles aspectos que não requeiram a aprovação do Congresso" para flexibilizar as sanções econômicas a Cuba, disse Raúl.
Os acordos anunciados pelos dois presidentes contemplam o restabelecimento de relações diplomáticas e permitiram a libertação dos agentes cubanos e de um "espião de origem cubana" e do funcionário terceirizado do governo americano, Alan Gross, que estavam presos na ilha.
Na sexta-feira, Obama manifestou sua convicção de que "as mudanças chegarão a Cuba" com esta nova política americana com relação à ilha, embora isto não vá ocorrer rapidamente.
"As mudanças chegarão a Cuba. Têm de chegar. (Havana) tem uma economia que não funciona", disse Obama, durante a última coletiva de imprensa do ano na Casa Branca, embora tenha admitido que não podia "antecipar as mudanças da noite para o dia" na ilha.
Na mesma entrevista, Obama se negou a considerar prazos para que essas mudanças ocorram antes do fim do seu mandato, porque seria "pouco realista que agora se busque ;mapear; onde Cuba estará" nos próximos anos.
Em relação ao embargo, o presidente americano destacou, na quarta-feira, que flexibilizará o que suas atribuições lhe permitem, já que somente o Congresso pode eliminar de vez esse obstáculo.