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Número de mortos em incêndio de balsa no Mar Adriático sobe para dez

O comandante da balsa Norman Atlantic, Argilio Giacomazzi, só deixou a embarcação após a retirada de todos os passageiros

postado em 29/12/2014 15:44

Dez pessoas morreram no incêndio do ferry "Norman Atlantic", que foi completamente evacuado nesta segunda-feira, depois de seu comandante ser o último a deixar o barco.

"Às 14H50 (10H50, horário de Brasília), o comandante Argilio Giacomazzi abandonou o barco", informou a Guarda-Costeira italiana em sua conta no Twitter. Há quase três anos, outro comandante italiano, Francesco Schettino, demostrou menos valentia ao abandonar seu barco, o "Costa Concordia", com dezenas de passageiros no navio.

As operações de resgate do ferry, que começaram no domingo, depois de um incêndio, foram concluídas com a saída do comandante, de 62 anos.

Por mais de 24 horas, autoridades marítimas italianas, gregas e albanesas tentaram evacuar passageiros e membros da tripulação.

O acidente deixou oito mortos, cujos corpos foram recolhidos no Mar Adriático.

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As equipes de resgate estavam, desde domingo pela manhã, em uma corrida contra o tempo para salvar as 478 pessoas a bordo, que ficaram durante 34 horas no convés do ferry, sob um vento glacial e uma fumaça espessa que dificultou o trabalho dos socorristas.

[SAIBAMAIS]Cerca de 50 passageiros resgatados chegaram nesta segunda-feira de manhã a Bari (sudeste da Itália), visivelmente esgotados, a bordo do navio "Spirit of Piraeus", de bandeira de Cingapura, segundo as autoridades italianas.

"A situação é boa para esses sobreviventes, na maioria gregos, entre eles quatro crianças e uma mulher grávida", disse o prefeito de Bari, Antonio Nunziante.

"Choraram e abraçaram seus salvadores", explicou aos jornalistas reunidos no porto. Outros passageiros, cerca de 70, foram levados à Grécia.

Forte cheiro de queimado

Em Bari, uma das passageiras se mostrou muito crítica em relação à tripulação. Procurada pelo canal italiano SKYTG24, denunciou a "evidente falta de preparo da tripulação" e lamentou que tenha sido impossível levar os botes para a água.

Fotis Tsantakidis, motorista de caminhão, contou ao jornal grego que acordou com o forte cheiro de queimado. "Saí correndo. Busquei um colete salva-vidas, mas não encontrei nenhum", explicou, acrescentando que conseguiu embarcar no "Spirit of Piraeus" apesar da ressaca.

"Um italiano caiu na água nesse momento, mas, felizmente, usava colete salva-vidas", recordou.

Um passageiro grego não teve a mesma sorte. Após cair na água com a mulher, permaneceu por quatro horas ao seu lado. A mulher contou seu drama à agência italiana Ansa.

;Vi meu marido morrer;
"Vi meu marido morrer. Tentei salvá-lo, mas não consegui", desabafou no hospital de Lecce (sudeste da Itália), para onde foi levada após o resgate.

A maioria dos sobreviventes saíram ilesos do incêndio, mas sofreram de hipotermia e problemas respiratórios, segundo os socorristas entrevistados pelos veículos italianos.

Roma mobilizou quatro rebocadores com o objetivo de estabilizar o "Norman Atlantic", de 186 metros de comprimento. Agora que terminou a evacuação, ele deve ser rebocado até Brindisi, na Itália. O barco também poderia ser deslocado à Albânia, caso fosse necessário.

O fogo aconteceu na madrugada de domingo, na área reservada aos veículos, assolada por fortes ventos e ondas. Os passageiros, muitos deles italianos e turcos, haviam partido do porto grego de Patras (sudoeste) rumo a Ancona (leste da Itália).

"A noite será longa", disse em um tuíte na noite de domingo o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi.

A companhia grega Anek fretou este ferry, de bandeira italiana e construído em 2009, que havia passado com êxito por uma inspeção em 19 de dezembro. Segundo o armador italiano, havia sido detectado um problema em uma das portas corta-fogo situada na ponte número 5, precisamente onde o incêndio foi declarado, indicou o grupo Visenti, citado pela agência Ansa.

A bordo, viajavam principalmente gregos (268), turcos (54), italianos (44), albaneses (22), alemães (18), suíços (10) e franceses (10), mas também havia russos, austríacos, britânicos e holandeses.

"Todos estamos na ponte, estamos molhados, temos frio, tossimos por causa da fumaça, há mulheres, crianças e idosos", havia indicado com voz cansada Giorgos Styliaras, um dos passageiros interrogados por telefone pelos meios de comunicação gregos.

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