Agência France-Presse
postado em 29/12/2014 19:10

Dez pessoas morreram no incêndio do ferry Norman Atlantic na costa da Albânia, informou nesta segunda-feira, (29/12), a Marinha italiana, após a descoberta de dois novos corpos, enquanto persistem rumores sobre desaparecidos no incidente. O boletim precedente apontava oito mortos e 427 pessoas resgatadas com vida, incluindo os 56 membros da tripulação do Norman Atlantic.
[SAIBAMAIS]A lista de embarque do ferry informava 478 pessoas a bordo, sendo 422 passageiros, mas as autoridades italianas pediram prudência e não citaram "desaparecidos" no incidente ocorrido no domingo no Mar Adriático. O ministro italiano dos Transportes, Maurizio Lupi, afirmou ser "absolutamente prematuro" falar em desaparecidos, e citou pessoas resgatadas que não faziam parte da lista de embarque.
"Não sabemos realmente os números definitivos envolvendo passageiros", disse Lupi em entrevista coletiva. A ministra italiana da Defesa, Roberta Pinotti, afirmou que de qualquer maneira as operações de busca no mar por eventuais desaparecidos prosseguem.
O ferry foi completamente evacuado nesta segunda-feira, com seu comandante sendo o último a abandonar o barco. "Às 14H50 (10H50, horário de Brasília), o comandante Argilio Giacomazzi abandonou o barco", informou a Guarda-Costeira italiana em sua conta no Twitter.
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As operações de resgate do ferry, que começaram no domingo, depois de um incêndio, foram concluídas com a saída do comandante, de 62 anos. Por mais de 24 horas, autoridades marítimas italianas, gregas e albanesas trabalharam para evacuar os passageiros e os membros da tripulação.
As equipes de resgate estavam, desde domingo pela manhã, em uma corrida contra o tempo para salvar as pessoas a bordo, que ficaram durante 34 horas no convés do ferry, sob um vento glacial e uma fumaça espessa que dificultou o trabalho dos socorristas. Um grupo de 50 passageiros chegou nesta segunda-feira de manhã a Bari (sudeste da Itália), visivelmente esgotado, a bordo do navio "Spirit of Piraeus", de bandeira de Cingapura.
"A situação é boa para esses sobreviventes, na maioria gregos, entre eles quatro crianças e uma mulher grávida", disse o prefeito de Bari, Antonio Nunziante. "Choraram e abraçaram seus salvadores", explicou aos jornalistas reunidos no porto. Outros passageiros, cerca de 70, foram levados à Grécia.
Forte cheiro de queimado
Em Bari, uma das passageiras se mostrou muito crítica em relação à tripulação. Procurada pelo canal italiano SKYTG24, denunciou a "evidente falta de preparo da tripulação" e lamentou que tenha sido impossível lançar os botes na água. Fotis Tsantakidis, motorista de caminhão, contou ao jornal grego que acordou com um forte cheiro de queimado. "Saí correndo. Busquei um colete salva-vidas, mas não encontrei nenhum", explicou, acrescentando que conseguiu embarcar no "Spirit of Piraeus", apesar do mar muito agitado.
"Um italiano caiu na água nesse momento, mas, felizmente, usava colete salva-vidas", recordou. Um passageiro grego não teve a mesma sorte. Após cair na água com a mulher, permaneceu por quatro horas ao seu lado. A mulher contou seu drama à agência italiana Ansa.
;Vi meu marido morrer;
"Vi meu marido morrer. Tentei salvá-lo, mas não consegui", desabafou no hospital de Lecce (sudeste da Itália), para onde foi levada após o resgate. A maioria dos sobreviventes saiu ilesa do incêndio, mas muitos sofreram de hipotermia e problemas respiratórios, segundo os socorristas entrevistados pelos veículos italianos.

Roma mobilizou quatro rebocadores com o objetivo de estabilizar o "Norman Atlantic", de 186 metros de comprimento. Agora que terminou a evacuação, ele deve ser rebocado até Brindisi, na Itália. O barco também pode ser deslocado para a Albânia, se for necessário. O fogo aconteceu na madrugada de domingo, na área reservada aos veículos, assolada por fortes ventos e ondas. Os passageiros, muitos deles italianos e turcos, haviam partido do porto grego de Patras (sudoeste) rumo a Ancona (leste da Itália).
A companhia grega Anek fretou este ferry, de bandeira italiana e construído em 2009, que havia passado com êxito por uma inspeção em 19 de dezembro. Segundo o armador italiano, foi detectado um problema em uma das portas corta-fogo situada na ponte número 5, precisamente onde o incêndio foi declarado.
A bordo, viajavam principalmente gregos (268), turcos (54), italianos (44), albaneses (22), alemães (18), suíços (10) e franceses (10), mas também havia russos, austríacos, britânicos e holandeses.