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Buscas por passageiros de aviões que caem no mar podem durar anos

Quando um avião afunda no mar tem início uma corrida contra o relógio para localizar e recuperar as caixas-pretas, que registram os dados dos voos desde os anos 1960

Agência France-Presse
postado em 30/12/2014 12:13
Destroços do Airbus A320-200 da companhia aérea AirAsia foram encontrados no mar de Java dois dias após seu desaparecimento com 162 pessoas a bordo, mas localizar e resgatar a fuselagem de um avião no mar pode durar anos e custar milhões de dólares. Um exemplo é o Boeing 777 do voo MH3270 da Malaysia Airlines, que ainda não foi encontrado nove meses após seu desaparecimento no oceano Índico, com 239 pessoas a bordo, em 8 de março de 2014. Foram necessários 23 meses para encontrar, em 3 de abril de 2011, os destroços do Airbus A330-230 da Air France do voo AF 447 Rio-Paris desaparecido em 1 de junho de 2009 no Atlântico, em frente à costa do Brasil, embora os investigadores soubessem onde procurar. O acidente deixou 228 mortos.

No caso do avião da AirAsia, as operações são facilitadas pela pouca profundidade do mar de Java (algumas dezenas de metros) e pelo curto período de tempo entre o desaparecimento do avião e a descoberta dos primeiros destroços.

Quando um avião afunda no mar tem início uma corrida contra o relógio para localizar e recuperar as caixas-pretas, que registram os dados dos voos desde os anos 1960. A regulamentação impõe aos aviões civis ter dois destes instrumentos, o FDR (Flight Data Recorder, que registra os parâmetros do voo), e o CVR (Cockpit Voice Recorder), que registra as vozes e os ruídos da cabine de pilotagem.

As caixas-pretas estão protegidas por um cofre de aço blindado de sete quilos e podem resistir a uma imersão de um mês a 6 mil metros de profundidade. Em caso de imersão, tem início um mecanismo de segurança que emite um sinal de som por ao menos 30 dias consecutivos, com um alcance de 2 a 3 quilômetros.

Os investigadores dispõem paralelamente de equipamentos sofisticados para fazer uma varredura no mar: satélites, robôs e drones submarinos, capazes de transportar câmeras de alta definição, sondas hidrofônicas, sonares, etc.

Mas na busca também são úteis as estatísticas: graças a sua análise, especialmente com base no teorema de Thomas Bayes (cientista inglês do século XVIII), especialistas americanos contribuíram para a localização dos destroços do voo Rio-Paris com pesquisas realizadas pelo Instituto oceanográfico Woods Hole (WHOI).


Uma vez localizados os destroços, tem início a recuperação. Para o voo Rio-Paris, o navio francês "Ile de Sein", dotado de um robô teleguiado, pôde resgatar entre abril e junho de 2011 os restos de 104 vítimas e pedaços do avião, incluindo as caixas-pretas e os motores, que estavam a 3.900 metros de profundidade.

[SAIBAMAIS]Outros cinquenta corpos haviam sido encontrados logo após o acidente, o que totaliza 154 cadáveres recuperados após a catástrofe. O "Ile de Sein" é um navio que pode instalar cabos submarinos a 6.000 metros de profundidade e levantar pesos de até dez toneladas, assim como seus gêmeos, o "le de Batz" e o "Ile de Ré".

O "Ile de Batz" recuperou em janeiro de 2004 as caixas-pretas e pedaços do Boeing 737 da companhia egípcia Flash Airlines que caiu no mar Vermelho pouco depois de decolar de Sharm el-Sheikh (Egito), em 3 de janeiro (148 mortos).

Tanto a localização quanto a recuperação dos aviões acidentados são muito caras: 35 milhões de euros para o Rio-Paris, muito mais para o voo MH370, cujas operações de busca custaram mais de 100 milhões de dólares nos dois primeiros meses e serão provavelmente as mais caras da história da aviação.

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