Agência France-Presse
postado em 30/12/2014 19:31
Atenas - O partido de esquerda radical contra a austeridade Syriza deve chegar ao poder após as eleições legislativas de 25 de janeiro na Grécia, mas o jogo de alianças pode ser desfavorável ao grupo. Os quase 28% das intenções de voto, segundo pesquisa publicada na última segunda-feira, podem não garantir ao Syriza a maioria parlamentar necessária para formar um governo sozinho - obrigando a legenda a fazer alianças com pequenos partidos. "O cenário político atual permanece nebuloso porque não se sabe qual dos pequenos partidos terá representação no Parlamento e poderia participar de uma coalizão", avalia Manolis Alexakis, sociólogo político da Universidade de Creta.
Após o fracasso na segunda-feira da eleição de um novo presidente pelos deputados, o premiê conservador Antonis Samaras, à frente de uma coalizão de direita-socialista há dois anos, teve que se contentar em pedir oficialmente a dissolução do parlamento e eleições antecipadas, como prevê a constituição do país.
A dissolução deve ser oficialmente passada aos deputados nesta quarta-feira, mas as lideranças políticas não esperaram para começar a campanha. Samaras falou novamente sobre o espectro da saída da Grécia da zona do euro.
É preciso entrar "na batalha eleitoral com responsabilidade" pois "a manutenção do país na Europa depende desta luta", disse o primeiro-ministro antes de se reunir com Carolos Papoulias.
Em outro pronunciamento feito diante de seu partido, ele se disse certo da "vitória nas eleições", alertando que, caso o Syriza coloque em prática "metade de seu programa", causará um rombo "de 35 a 38 bilhões" nas contas do país.
Um dos responsáveis pela política econômica do Syriza, Yiannis Milios, que há poucas semanas esteve em Londres para falar com representantes do mercado financeiro, afirmou que "grande parte da comunidade econômica mundial compreendeu que o potencial de desenvolvimento da economia grega só pode aparecer com o fim das medidas de austeridade".
A esquerda radical pretende negociar com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional uma nova reestruturação da dívida pública, que continua sendo o grande fardo da economia grega.
Em busca de um "fiel da balança"
Nas pesquisas, o Syriza "aparece à frente e será difícil contornar esta tendência", afirmou à AFP o cientista político Ilias Nikolakopoulos. Caso o Syriza não encontre um aliado para formar a coalizão, novas eleições deverão ser organizadas, como ocorreu em maio de 2012, auge da crise grega.
A possibilidade de vitória do partido aumentou a preocupação dos credores da Grécia, a União Europeia e FMI, que ainda não terminou a auditoria do país para desbloquear a última parcela de empréstimo europeu.
Na segunda-feira, o FMI suspendeu sua ajuda até a formação do novo governo. "A pressão da Europa é grande e o Syriza será forçado a se deslocar para o centro na tentativa de encontrar um aliado", estima Manos Papazoglou, professor de ciência política na Universidade do Peloponeso.
Segundo Papazoglou, o recém-criado To Potami ("O Rio", em grego), que pretende ocupar a centro-esquerda do Pasok, pode ser "o fiel da balança".
Criado por um jornalista que reuniu diversas personalidades de centro, este pequeno partido aparece com 6,1% das intenções de voto e chega em terceiro lugar - atrás do Syriza e do Nova Democracia (direita).
Os Gregos Independentes, um partido popular-nacionalista e anti-austeridade, dirigido por um dissidente da direita, "pode tirar vantagem caso chegue a ultrapassar o quórum mínimo de 3% para entrar no Parlamento", explica Papazoglou, insistindo no fato de que "tal aliança seria frágil".
A preocupação dominou a imprensa grega nesta terça-feira: o jornal liberal Kathimerini chamou as eleições de "cruciais para o futuro do país". O jornal Ta Néa (centro-esquerda), de maior circulação no país, avalia que as eleições antecipadas "irão ocorrer num clima de incerteza".
A Bolsa de Atenas, que terminou em queda de 4% na segunda-feira, limitou os prejuízos nesta terça, fechando o pregão em baixa de apenas 0,45%.