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Líbano começa a impor vistos aos sírios devido a chegada de refugiados

A chegada maciça destes refugiados ao pequeno país do cedro pôs em apuros os recursos nacionais e inquieta seus cidadãos

Agência France-Presse
postado em 05/01/2015 18:51
Beirute- Abalado pela chegada maciça de refugiados, o Líbano estreitou o filtro para a entrada de cidadãos sírios, impondo-lhes desde a segunda-feira (5/1) a obtenção de um visto, algo inédito na história dos dois países.

"Hoje começamos a aplicar as novas medidas de entrada e os sírios que estão nas fronteiras começaram a apresentar seus documentos para entrar", informou uma fonte dos serviços libaneses de segurança. Desde sua independência nos anos 1940, esta é a primeira vez que o Líbano, que abriga 1,1 milhão de refugiados sírios, impõe a eles um visto.

A chegada maciça destes refugiados ao pequeno país do cedro pôs em apuros os recursos nacionais e inquieta seus cidadãos. A segurança se deteriorou muito em regiões como Arsal, uma cidade fronteiriça do leste do Líbano onde, em agosto, os jihadistas do grupo Estado Islâmico sequestraram dezenas de soldados.

Há meses, o governo do Líbano não deixa de chamar a atenção da comunidade internacional, dizendo que não pode lidar com semelhante fluxo de refugiados. Em outubro, o ministro libanês de Assuntos Sociais, Rashid Derbas, anunciou que seu país "já não recebe oficialmente mais sírios deslocados", com exceção de casos humanitários.

O ministro disse à AFP que a obrigatoriedade do visto visa a limitar a chegada de mais refugiados. "O objetivo é impedir que (os sírios) se refugiem" no Líbano e "regular mais seriamente a entrada de sírios".

A agência da ONU para os refugiados, Acnur, registrou 1,1 milhão de refugiados sírios no Líbano, mas estima-se que haja muitos mais e que milhares continuem entrando de forma ilegal.

Hora de fechar a torneira


Khalil Jebara, conselheiro do ministro libanês do Interior, disse que o país continuará reconhecendo exceções humanitárias, mas que as restrições são necessárias. "Nós estamos respeitando nossas obrigações internacionais (...), não expulsaremos ninguém e haverá exceções humanitárias", prometeu. "Mas é hora de regular o tema dos sírios que entram no Líbano", sentenciou.

Segundo ele, "sua presença supõe, para o Líbano, uma carga importante em termos econômicos, sociais e de segurança". Diferentemente de Jordânia e Turquia, outros dois países com grande número de refugiados sírios, o Líbano se negou a criar acampamentos para eles, o que significa que os deslocados se espalham por todo o país.

Lina Khatib, diretora do ;think tank; (centro de pesquisas) Carnegie Middle East Centre, afirma que as preocupações do Líbano com o problema dos refugiados são, ao mesmo tempo, "reais e exageradas". Os salários diminuíram e os aluguéis aumentaram. Mas também é certo que os empresários libaneses contrataram sírios, pagando salários mais baixos, explicou Khatib.

O precedente palestino


Líbano continua marcado por sua experiência com os refugiados palestinos, que se instalaram lá, fugindo de suas terras, após a criação do Estado de Israel, em 1948. Atualmente, mais de 400.000 palestinos, a maioria descendente dos primeiros refugiados, continua vivendo em campos e muitos libaneses culpam os grupos armados palestinos de terem desencadeado a guerra civil de 1975-1990.

O Líbano, um país de diferentes confissões religiosas, funciona com base em uma delicada distribuição de poder entre suas comunidades e vê como ameaça a este equilíbrio a chegada de refugiados sírios, a maioria sunitas. O embaixador da Síria no Líbano, Ali Abdul Karim Ali, disse que seu país compreende as novas restrições, mas pediu que haja uma "coordenação" com Damasco.



O porta-voz do Acnur, Ron Redmond, disse que a agência entende as razões do governo de Beirute, embora vá trabalhar com ele para garantir que "os refugiados não serão devolvidos a situações nas quais suas vidas corram perigo".

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