Agência France-Presse
postado em 08/01/2015 21:44
A tentativa do presidente francês, François Hollande, de criar um movimento de "unidade nacional", após o atentado desta quarta-feira, em Paris, gerou uma polêmica com a extrema direita, que denunciou sua "exclusão" de uma grande marcha, prevista para o domingo.
Hollande, muito impopular em um país fortemente atingido pela crise com uma alta taxa de desemprego, se fez presente pouco após o atentado no local do ataque, onde homens armados mataram 12 pessoas.
Ali, fez um apelo à "unidade nacional", antes de decretar esta quinta-feira dia de luto nacional.
O chefe de Estado, que celebrou várias reuniões de crise com os ministros do Interior, da Defesa e da Justiça, e com os encarregados da polícia, da gendarmeria e dos serviços de informação, enfrenta uma crise que alguns meios compararam aos atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York.
Nesta quinta-feira, Hollande multiplicou as reuniões com os líderes políticos.
O primeiro líder político convocado foi o antecessor de Hollande no Palácio do Eliseu, Nicolas Sarkozy (2007-2012), que como presidente do partido de direita UMP se posiciona como rival para as eleições presidenciais de 2017.
Foi a primeira vez que Sarkozy foi convidado ao Eliseu, desde que deixou o poder em 2012.
"Era meu dever responder a este convite", disse o ex-presidente, recebido por Hollande na escadaria do palácio.
Para Sarkozy, é importante mostrar um clima de "unidade nacional" diante do ataque, praticado por "fanáticos contra a civilização, a república e nossas ideias".
O ex-presidente disse ser necessário melhorar os dispositivos de vigilância e que isto deve ser feito "não em um contexto de oposição entre esquerda e direita, mas no marco de uma preocupação pela segurança dos franceses".
"É uma guerra declarada contra a civilização e a civilização tem a responsabilidade de se defender", concluiu.
Nesta quinta-feira, também foram convidados outros representantes parlamentares e na sexta-feira, Hollande receberá grupos que não dispõem de um grupo parlamentar: Marine Le Pen, presidente do partido Frente Nacional, o líder do centro, François Bayrou, e o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon.
A Unidade Nacional também foi a palavra de ordem da "marcha republicana", convocada para o domingo por partidos de esquerda. Sarkozy, que foi convidado pelo primeiro-ministro, Manuel Valls, disse que iria "se dadas as condições" de um clima de "recolhimento e de unidade".
O partido francês de extrema direita, Frente Nacional, que representa uma ameaça tanto para a maioria socialista no poder, quanto para a direita tradicional nas eleições presidenciais de 2017, denunciou estar sendo excluído deste movimento de "unidade nacional", convocado pela situação, após não ter sido convidado a esta marcha.
"A ideia do presidente da República de uma união nacional da qual ficaria excluído um partido que representa 25% dos franceses transforma esta ;união nacional; em uma ampla fraude política", estimou sua presidente Marine Le Pen, após uma reunião da qual participaram todos os partidos políticos, exceto o FN.
A líder da Frente Nacional lembrou que o partido tinha sido convidado por Sarkozy na cerimônia em homenagem às vítimas do jihadista francês, Mohamed Merah, que em março de 2012 matou sete pessoas em Toulouse (sul).
Neste contexto, um dos porta-vozes do governante Partido Socialista (PS), Olivier Faure, julgou necessário "não excluir ninguém", ao mesmo tempo em que o secretário-geral da UMP, Laurent Wauquiez, disse à AFP que este partido de direita estava disposto de forma "unânime" a se opor à exclusão da FN no domingo.
Para o cientista político Jérome Sainte-Marie, convidar a Frente Nacional ao Eliseu não é novo, mas chamá-la a uma manifestação "mudará tudo".
"Se são integrados ao arco republicano em um período de grande emoção nacional, com que direito poderiam rejeitá-los depois?" - questionou.