Agência France-Presse
postado em 09/01/2015 13:45
O chefe da agência de espionagem doméstica britânica disse que o Ocidente segue sob a ameaça de grandes atentados com muitas vítimas, para além dos ataques como o da revista Charlie Hebdo, e é quase inevitável que algum tenha êxito.Falando em Londres na noite de quinta-feira, um dia após o sangrento ataque em Paris contra a revista Charlie Hebdo, que deixou doze mortos, Andrew Parker, diretor-geral do MI5, evocou o risco de ataques que podem ser cometidos por indivíduos que retornam da Síria e sustentou que será impossível deter todos.
[SAIBAMAIS]
Embora a ameaça mais evidente seja proveniente da organização Estado Islâmico (EI), os grupos extremistas vinculados à Al-Qaeda continuam sendo um risco que não deve ser esquecido, lembrou Parker em uma conferência no Royal United Services Institute (RUSI).
"Seguimos enfrentando complôs mais complexos e ambiciosos que seguem a tendência, infelizmente bem estabelecida hoje, da Al-Qaeda e seus imitadores: tentativas de provocar mortes em massa, com frequência atacando meios de transportes ou alvos simbólicos", disse.
"Sabemos, por exemplo, que um grupo de terroristas fanáticos da Al-Qaeda na Síria projeta atentados de grande porte contra o Ocidente", declarou Parker, sem especificá-lo.
"Embora nossos sócios e nós façamos todo o possível, sabemos que não podemos deter tudo", acrescentou.
Fontes confiáveis disseram nesta sexta-feira que o grupo ao qual Parker se referiu é o Khorasan, que reúne jihadistas afegãos e paquistaneses da velha guarda, em oposição ao recente Estado Islâmico, que lutaram na Síria.
Raffaello Pantucci, diretor do instituto de análises International Security Studies, com sede em Londres, estimou que o ponto central da intervenção de Parker é que não se deve esquecer as velhas ameaças após o ataque contra a Charlie Hebdo, que responde a algo mais novo, o dos "lobos solitários", capazes de provocar muitos danos com pouca estrutura.
"Há uma tendência quando ocorrem coisas, que é a de assumir que existe uma nova ameaça e que essa é a única ameaça que existe. A realidade é que as outras ameaças sobrevivem", explicou Pantucci à AFP.
"Então embora acompanhemos um aumento deste tipo de coisas protagonizadas por uma pessoa, ainda existe muita gente planejando grandes ataques", acrescentou.
Mais poderes
O responsável pela espionagem doméstica expressou o desejo, neste contexto, de que os serviços antiterroristas disponham de poderes reforçados para a identificação e a vigilância de suspeitos.
Pauline Neville Jones, que foi ministra de Segurança no atual gabinete conservador de David Cameron, disse que as palavras de Parker respondem a "uma questão não resolvida", que é a da capacidade das agências de inteligência de intervir nas comunicações no mundo da internet e nas novas tecnologias.
"No próximo Parlamento", o que surgir das eleições de 7 de maio de 2015, "teremos que nos ocupar deste assunto. Precisamos de um acordo de longo prazo com as salvaguardas suficientes para que todos se sintam tranquilos", disse Neville Jones à rádio BBC 4.
Os responsáveis da inteligência britânicos lamentaram em muitas ocasiões que os operadores de internet e as redes sociais não deem a eles todo o acesso às comunicações dos usuários que gostariam.
Assim, recentemente, um comitê parlamentar culpou uma destas companhias ou rede social, sem citá-la, de não ter informado sobre um diálogo on-line que poderia ter evitado a morte do soldado Lee Rigby, assassinado a machadadas nas ruas de Londres no dia 22 de maio de 2013.