Em meio à tensão provocada pelo mais grave ataque terrorista na França dos últimos anos, os franceses tomarão as ruas de Paris, na tarde de hoje, em uma demonstração de união diante da violência extremista. ;A passeata de amanhã (hoje) será única; será um tributo para as vítimas das balas do terrorismo;, descreveu Bernard Cazeneuve, ministro do Interior do país. Mais de 1 milhão de pessoas são esperadas para a chamada ;marcha republicana;, no centro da capital. Segundo Cazeneuve, os franceses demonstrarão o ;seu compromisso com os valores da República e com a liberdade;. O evento tem início marcado para as 15h (meio-dia em Brasília), e contará com a presença de diversos líderes europeus. A presidente Dilma Rousseff será representada pelo embaixador brasileiro na capital francesa, José Bustani.
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A presença de líderes internacionais é uma resposta ao convite do presidente François Hollande para que todos demonstrem unidade contra o terrorismo. Autoridades como a chanceler alemã, Angela Merkel, o premiê britânico, David Cameron, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu confirmaram presença. Ontem, mais de 700 mil participaram de manifestações em repúdio às ações de extremistas islâmicos (leia na página 19), que culminaram na morte de 17 pessoas. Por meio de novo comunicado, Dilma declarou solidariedade ao povo e ao governo francês. ;Manifesto, igualmente, a esperança de que a grande comoção que esses acontecimentos provocaram na França e no mundo seja o melhor antídoto contra futuros atos de intolerância e de barbárie;, afirmou.
Um forte esquema de vigilância foi elaborado para o evento. Mais de 5,5 mil homens da polícia e das Forças Armadas serão mobilizados. Uma fonte de segurança afirmou à rede de televisão CNN que células terroristas na França que estavam inoperantes podem ter sido ativadas após os incidentes que se seguiram ao ataque à sede da revista satírica francesa Charlie Hebdo, na quarta-feira. Além dos 12 mortos no atentado contra a publicação, a tomada de um mercado judaico deixou quatro vítimas na sexta-feira, e uma policial foi morta no dia anterior.
Segundo Cazeneuve, o alerta antiterrorismo será mantido nas próximas semanas. ;Os ataques contra a França tiveram como alvo um país que representa os direitos humanos em seu modo mais universal;, considerou. Autoridades francesas anunciaram uma mobilização adicional de 500 militares para a marcha em Paris. Os soldados atuarão ao lado de cerca de 2 mil policiais na segurança da capital. O contingente de segurança também será reforçado nos arredores da cidade.
O ministro do Interior informou que a rede de esgoto da cidade passaria por uma inspeção para evitar ameaças durante a passeata. Atiradores de elite ficarão posicionados ao longo do trajeto. De acordo com o jornal Le Monde, dois itinerários serão adotados para que a marcha possa fluir. O plano é que a multidão se reúna na Praça da República e siga em direção à Praça da Nação dividida em dois grupos; um passará pelo Boulevard Voltaire e outro pela Avenida da República. Algumas estações de metrô próximas ao trajeto estarão fechadas e será proibido estacionar em ambas as rotas.
Além das autoridades de diversos países, representantes de organismos ; como a Liga Árabe e o Parlamento Europeu ; estarão presentes. O ex-presidente Nicolas Sarkozy, ex-ministros e dirigentes de partidos franceses também são esperados no evento. Apesar de o governo francês ter destacado que deseja a presença de membros do partido de extrema-direita Frente Nacional, a líder da agremiação, Marine Le Pen, alegou que ela e seu grupo foram ;excluídos; da marcha.
Londres
De acordo com o jornal britânico The Guardian, Londres deve realizar eventos hoje para manifestar solidariedade para com os franceses. Um tributo, marcado para começar no mesmo instante da mobilização em Paris, projetará as cores da bandeira francesa em pontos turísticos da capital britânica, como a Tower Bridge, a Trafalgar Square e a roda gigante London Eye. O prefeito londrino, Boris Johnson, disse que a cidade ficou comovida com os episódios em Paris. ;Não podemos nos esquecer das centenas de milhares de cidadãos franceses que consideram Londres sua casa. Os nossos pensamentos vão estar com eles nesse fim de semana enquanto eles fazem o melhor para lidar com as cenas de agonia às quais assistimos;, afirmou.
Ameaça de bomba esvazia cinema
A pouco mais de 12 horas da grande marcha prevista para hoje, o complexo de cinemas Gaumont Opera foi esvaziado, na noite de ontem, ante a ameaça de bomba. O prédio está situado em Montparnasse, na Champs-Elysée, no coração de Paris. Uma ligação anônima e um suposto pacote abandonado no local teriam motivado o alerta. Fotos divulgadas pelas redes sociais mostravam carros da polícia e vários frequentadores visivelmente assustados, do lado de fora das salas.
Uma homenagem autêntica
Do lado de fora dos escritórios da revista Charlie Hebdo, muitos franceses decidiram prestar seu tributo aos cartunistas mortos de maneira simbólica: vários cartuns foram colados no vidro do prédio, no centro de Paris.
;Eu não sou Charlie;
A frase polêmica foi dita por Jean-Marie Le Pen (foto), dirigente histórico do partido francês de extrema-direita Frente Nacional. O político denunciou a manifestação prevista para hoje em homenagem às vítimas, ao afirmar que o movimento foi orquestrado pelos meios de comunicação. ;Não vou brigar para defender o espírito da Charlie, que é um espírito anarco-trotskista;, afirmou Jean-Marie, cuja filha, Marine Le Pen, preside atualmente o partido.
296 mil
Total de seguidores da revista satírica francesa Charlie Hebdo no Twitter.
;Quero dizer para todas as pessoas racistas, islamofóbicas e antissemitas que não se deve misturar extremistas e muçulmanos;
Malek Merabet, irmão do policial muçulmano Ahmed Merabet, morto na quinta-feira