Mundo

Próxima edição do semanário Charlie Hebdo terá caricaturas de Maomé

O advogado da publicação, Richard Malka, garantiu à rádio France Info que a revista vai incluir outras sátiras sobre políticos e religiosos

postado em 12/01/2015 14:59
Paris - O próximo número do Charlie Hebdo, preparado pelos sobreviventes do sangrento atentado contra o jornal, em Paris, criticará, como de hábito, políticas e religiões, e incluirá caricaturas de Maomé, informou o advogado da publicação nesta segunda-feira.

"Evidentemente", respondeu Richard Malka ao ser perguntado sobre a possibilidade de haver desenhos do profeta no número que estará disponível a partir de quarta-feira nas bancas. "Não cederemos em nada, senão tudo isto não faria sentido", acrescentou.

O Charlie Hebdo "dos sobreviventes", elaborado na sede do jornal Libération, terá uma tiragem de 3 milhões de exemplares e será "traduzido para 16 idiomas", informou nesta segunda-feira o médico e cronista Patrick Pelloux.

Leia mais notícias em Mundo

No dia seguinte às manifestações que levaram para as ruas de várias cidades francesas quase quatro milhões de pessoas, em repúdio aos atentados e em defesa da liberdade de expressão, os autores do próximo número mantêm firmemente sua linha editorial.

"Rimos de nós mesmos, das políticas, das religiões, é um estado de ânimo", disse o advogado.

Em 2006, o Charlie Hebdo reproduziu as caricaturas de Maomé, cuja publicação no jornal dinamarquês JyllandsPosten desencadeou violentos protestos. A partir de então, o jornal satírico francês sofreu um incêndio criminoso e várias ameaças.

Os dois jihadistas que mataram 12 pessoas na sede do jornal, na semana passada, saíram gritando, "Vingamos o profeta! Matamos o Charlie Hebdo".

Para Richard Malka, "nunca temos o direito a criticar um judeu por ser judeu, um muçulmano por ser muçulmano, um cristão por ser cristão, mas podemos dizer tudo o que quisermos, as coisas mais horríveis, e as dizemos sobre o cristianismo, o judaísmo e o Islã, porque além da unidade dos belos lemas, esta é a realidade do Charlie Hebdo".

O número de quarta-feira está sendo preparado exclusivamente por membros da equipe do jornal e não incluirá desenhos de cartunistas externos que publicaram incontáveis esboços em homenagem às vítimas depois do atentado.

Nos Estados Unidos, o Clube de Imprensa de Los Angeles anunciou que o jornal receberá este ano o prêmio Daniel Pearl à coragem e à integridade jornalística. O anúncio foi feito na presença dos pais do jornalista americano, assassinado em 2002 no Paquistão.

"Nenhum ato terrorista deve frear a liberdade de expressão. Dar o prêmio Daniel Pearl ao Charlie Hebdo é uma forte mensagem neste sentido", anunciou em um comunicado o presidente do clube de imprensa local e apresentador do canal NBC4, Robert Kovacik.

O editor-chefe do jornal, Gerard Biard, disse se sentir "profundamente honrado" em receber este tributo. "Evidentemente, vamos aceitá-lo", afirmou. O prêmio será entregue pelos pais de Pearl, Ruth e Judea, em 28 de junho, durante um jantar no hotel Biltmore de Los Angeles.

Nas últimas edições, o prêmio recompensou o correspondente da emissora NBC Richard Engel pela cobertura em conflitos no Oriente Médio; Bob Woodruff, ferido em 2006 quando fazia reportagens sobre a guerra no Iraque, e a jornalista russa assassinada Anna Politkovskaya. "Choramos e estamos unidos ao povo francês e com as famílias das vítimas do massacre de Paris", afirmaram Ruth e Judea no mesmo comunicado.

"Os corações valentes do Charlie Hebdo protegeram nossa liberdade durante várias décadas. Agora, nosso dever é proteger sua visão para as próximas gerações", acrescentaram.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação