Agência France-Presse
postado em 12/01/2015 21:15
O ataque do grupo jihadista Boko Haram à Baga, no nordeste da Nigéria, deixou corpos espalhados por todas as partes, revelou à AFP Borye Kime, um morador local que conseguiu fugir para o Chad e nesta segunda-feira voltou à cidade. Kime, um pescador de 40 anos, que retornou à Baga após cruzar o lago Chad em uma canoa, revelou que o cenário é aterrorizante: "há corpos em todas as partes e a cidade cheira a decomposição". No dia 3 de janeiro passado, o Boko Haram entrou em Baqa e tomou o quartel da cidade, iniciando uma onda de terror que se estendeu por 16 localidades em torno deste centro regional de comércio no Estado de Borno. No sábado, outro morador local, Yanaye Grema, revelou que ficou escondido durante três dias enquanto os jihadistas saqueavam Baga, antes de fugir durante a noite do dia 8. "Por cinco quilômetros, caminhei sobre corpos".
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Os jihadistas foram de casa em casa tirando os jovens em idade de combater e os executando na rua, revelaram várias testemunhas à ONG Anistia Internacional. "Com base em testemunhas, é possível afirmar que centenas de civis morreram neste ataque, talvez mais, e milhares tiveram que fugir", disse um membro da Anistia na Nigéria, Daniel Eyre.
Montes de corpos
Kime contou à AFP que, "a princípio, tentei voltar à cidade pelo norte, mas vi luzes e escutei gente falando, e percebi que era uma barricada do Boko Haram". "Voltei pelo mercado de gado e encontrei montes de corpos espalhados por todas as partes. Está claro que era o cenário de um massacre". Segundo Kime, Baga está em ruínas após ser incendiada, inclusive sua própria casa.
[SAIBAMAIS]O governo nigeriano declarou que o Exército está "perseguindo ativamente" os jihadistas do Boko Haram em uma operação para retomar Baga, mas Kime afirmou "não ter visto qualquer soldado" na cidade. Outros moradores de Baga relataram que as tropas debandaram quando o Boko Haram atacou, deixando a defesa da cidade com as milícias civis. "As milícias lutaram durante algum tempo, mas recuaram porque não conseguiram enfrentar o armamento pesado do Boko Haram", explicou Mala Kyari Shuwaram, um líder local de Baga que fugiu para Dubuwa, no Chad.
"A resistência da milícia deu tempo para que muita gente fugisse de Baga pegando canoas no Lago Chad. Senão, estaríamos todos mortos". "Eu mesmo ajudei quatro soldados que fugiam a subir nas canoas (...). Jogaram suas armas e escaparam conosco", revelou Shuwaram. Muitos que escaparam estão nas ilhas do Lago Chad. Ao menos mil pessoas, incluindo os quatro soldados, passaram três dias no Lago, disse Shuwaram.