Agência France-Presse
postado em 13/01/2015 16:35
Berlim- Milhares de pessoas participaram, nesta terça-feira (13/1), em Berlim, de uma manifestação contra a islamofobia, organizada por entidades muçulmanas, e que contou com a presença da chefe de governo, a chanceler Angela Merkel, e do chefe de Estado, o presidente Joachin Gauck.Diante de um mar de bandeiras francesas, alemãs e israelenses, autoridades muçulmanas depositaram uma coroa de flores brancas com a inscrição "Terrorismo: não em nosso nome", em frente à embaixada da França no Portão de Brandemburgo.
[SAIBAMAIS]Nos cartazes, podia-se ler "Sou muçulmano, quero viver, e não morrer", ou "muçulmanos alemães solidários com as vítimas do islamismo em Paris, Nigéria e o mundo inteiro. Contra o antissemitismo e o ódio". Antes prestar um minuto de silêncio, várias personalidades discursaram no Portão de Brandeburgo, entre elas Aiman Mazyek, um dos organizadores do ato e presidente do Conselho Central dos Muçulmanos (ZMD), uma das associações representativas dos muçulmanos alemães.
"Hoje, queremos expressar nossa solidariedade ao povo francês", declarou Mazyek, acrescentando que "os terroristas não ganharam, e os terroristas não ganharão no futuro". Já o vice-presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, Abraham Lehrer, condenou "firmemente" os "atos de vingança, em particular, as agressões contra as mesquitas".
Ele expressou ainda sua preocupação com a "radicalização cada vez maior dentro do Islã" e com o "crescente número de judeus franceses" que emigram para o Estado de Israel. Também discursaram no evento representantes das comunidades judaica, católica e protestante, além do presidente alemão, Joachin Gauck, que encerrou a manifestação.
"Todos somos a Alemanha", declarou o presidente Gauck, enviando uma mensagem de unidade diante da islamofobia crescente no país e após os ataques jihadistas da semana passada em Paris. "Todos somos a Alemanha: nós, os democratas com nossos diferentes passados políticos, culturais e religiosos; nós, que nos respeitamos e precisamos uns dos outros", disse o chefe de Estado, diante de cerca de dez mil participantes nesta manifestação pela tolerância.
"Nós, que acreditamos ser capazes de levar uma vida como a que todos nós desejamos: com unidade, justiça e liberdade (nr: lema da República Federal da Alemanha)", prosseguiu. Na véspera, a chanceler Angela Merkel já havia afirmado que os muçulmanos fazem parte da Alemanha.
A Alemanha "se tornou muito diversa nos níveis religioso, cultural e na mentalidade, graças à imigração", insistiu Gauck. "Os terroristas quiseram nos dividir, mas eles viram o contrário: eles nos uniram", acrescentou o presidente, um pastor protestante originário da antiga Alemanha comunista, muito respeitado no país.
Após os atentados em Paris, as autoridades temem uma escalada das tensões na Alemanha, onde o grupo anti-Islã Pegida (acrônimo em alemão de Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente) tem organizado marchas com milhares de seguidores, sobretudo, na cidade de Dresden, capital da Saxônia.
Pegida reúne 25 mil em Dresden
Esse ato aconteceu um dia depois da 15; manifestação em Dresden convocada pelo Pegida. Na segunda-feira, o movimento reuniu mais de 25 mil pessoas, um recorde de afluência. Em sua primeira manifestação, em 20 de outubro, havia cerca de 500 pessoas.
Na capital da Saxônia, muitos carregavam cartazes com referências aos atentados parisienses, como "Não podem matar nossa liberdade", "Liberdade de pensar em vez do terror salafista", misturados com "Islã = Câncer", "Não ao multiculturalismo", ou "Paz com a Rússia".
Desde outubro, o Pegida organiza todas as segundas-feiras uma manifestação contra o Islã e os demandantes de asilo. Desta vez, porém, a convocação foi para prestar homenagem às "vítimas do terrorismo de Paris".
Mais de 100 mil contramanifestantes também saíram às ruas na segunda-feira na Alemanha para protestar contra o movimento islamofóbico e transmitir uma imagem de país solidário com as vítimas dos atentados de Paris, assim como tolerante e aberto ao mundo.
De acordo com uma pesquisa divulgada na semana passada, mais da metade dos alemães (57%) considera o Islã uma ameaça, e 61% acreditam que essa religião é incompatível com o Ocidente. De 81 milhões de habitantes, a Alemanha conta atualmente com quatro milhões de muçulmanos, a imensa maioria de origem turca.