Agência France-Presse
postado em 14/01/2015 07:54
Sana- A organização Al-Qaeda no Iêmen reivindicou nesta quarta-feira (14/1) o atentado que dizimou em 7 de janeiro a redação da revista satírica francesa Charlie Hebdo, afirmando ter agido por ordem de seu líder Ayman al-Zawahiri para "vingar" o Profeta Maomé."Os heróis foram recrutados e agiram; eles prometeram e passaram à ação para a grande satisfação dos muçulmanos", declarou no vídeo postado em um site islamita um dos líderes da Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA), Nasser bin Ali al-Anassi. Ele fazia referência aos autores do atentado, os irmãos Kouachi, um dos quais disse pertencer ao grupo pouco depois do ataque em Paris.
A AQPA, que nasceu da fusão dos braços sauditas e iemenita da Al-Qaeda, é considerada por Washington como as filiais mais perigosas da rede extremista. Muito ativa no Iêmen, a AQPA também se distingue por atentados ou planos de atentados no exterior como a tentativa de explodir um avião em pleno voo no Natal de 2009.
"Nós, a Al-Qaeda na Península Arábica, reivindicamos a responsabilidade desta operação como vingança", declarou al-Anassi. Os serviços de inteligência americanos confirmaram a autenticidade do vídeo, segundo um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.
Washington considera a AQPA, que surgiu da fusão entre os braços saudita e iemenita da Al-Qaeda, a divisão mais perigosa da rede extremista. O grupo, que se mostra muito ativo no Iêmen, ficou conhecido após os atentados e ataques frustrados no exterior, quando tentou explodir um avião comercial americano durante as festas de fim de ano em 2009.
"Fomos nós que escolhemos o alvo, financiamos a operação e recrutamos o chefe. A operação foi realizada por ordem de nosso emir, o general Ayman al-Zawahiri, e de acordo com a vontade póstuma de Osama bin Laden".
Al-Anassi também prestou homenagem a Amédy Coulibali, o autor do ataque de sexta-feira contra um mercado kasher de Paris que provocou a morte de quatro judeus. "Foi pela graça de Alá que a operação (contra a Charlie Hebdo) a coincidiu com a dele", indicou.
Amédy Coulibali declarou pertencer ao grupo Estado Islâmico (EI), organização rival da Al-Qaeda, e afirmou ter coordenado sua ação com os irmãos Kouachi. Ocorrido uma semana após o ataque contra a Charlie Hebdo, a reivindicação da AQPA coincide com a publicação dos milhões de exemplares da primeira edição pós-ataque da revista satírica. A capa da edição traz uma nova caricatura de Maomé sob o título "Tudo está perdoado".
Sites jihadistas em júbilo
Em um vídeo divulgado na sexta-feira, um funcionário religioso da AQPA ameaçou a França com novos ataques. "Não estarão seguros enquanto combaterem Alá, seu mensageiro e os fiéis", declarou nesta mensagem Harith al-Nadhari. O ataque contra Charlie Hebdo, amplamente condenado pelos líderes do mundo árabe, encontrou um eco favorável junto aos ramos da Al-Qaeda e nos sites jihadistas. Desta forma, a Al-Qaeda no Maghreb Islâmico (AQMI) advertiu na segunda-feira a França que ela estaria exposta a novos ataques caso decida persistir em sua política "hostil ao Islã".
"Enquanto seus soldados ocuparem países como o Mali e a República Centro-Africana e bombardearem nossos povos na Síria e no Iraque, e enquanto sua imprensa estúpida continuar a atentar contra o nosso profeta, a França estará exposta ao pior", prosseguiu a AQMI, que saudou os "três cavaleiros do Islã heróis da batalha de Paris", em referência aos atentados.
O EI postou nesta quarta-feira um vídeo em que jihadistas falam em francês e comemoram o ataque contra Charlie Hebdo reiterando os apelos a outros ataques contra a França. O lídeo do grupo islamita Boko Haram, que semeia o terror na Nigéria e em Camarões, Abubakar Shekau, foi mostrado em um vídeo elogiando em um tom de júbilo o ataque contra Charlie Hebdo. O jihadista argelino Mokhtar Belmokhtar chamou o massacre de "ação heróica rara".
Iêmen ;vítima;
No Iêmen, país onde os irmãos Kouachi teriam ficado e onde o mais velho teria aprendido a lidar com armas junto a Al-Qaeda, o ataque contra Charlie Hebdo produziu uma resposta oficial dúbia. O presidente Abd Rabbo Mansur Hadi expressou "total solidariedade de seu país com o povo francês". Mas, acrescentou, "enfatizamos que o Iêmen tem sido muito afetado pelo terrorismo que vem de fora e que não o re-exporta, como alguns dizem".
"No mesmo dia (do ataque em Paris), o Iêmen sofreu um crime terrorista condenado pelo Islã e todas as religiões monoteístas", disse Hadi em referência a um ataque que atingiu o academia de polícia em Sana e que matou 40 pessoas.
Funcionários dos serviços de segurança iemenitas, citados pela imprensa do Golfo, queixaram-se da falta de cooperação por parte dos franceses e americanos, dizendo que não foram informados que os irmãos Kouachi estavam sob vigilância. O Iêmen é um país à beira do caos, com a violência causada não só pela Al-Qaeda, mas também por milicianos xiitas que controlam a capital Sana desde setembro.