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Papa reconforta os fiéis do Sri Lanka ante um milhão de pessoas

O Papa Francisco visitou um templo budista, o que não estava previsto em seu programa

Agência France-Presse
postado em 14/01/2015 17:04
O Papa libera uma pomba como símbolo da paz na igreja Madhu no noroeste de Sri Lanka
Colombo-
O papa Francisco reconfortou nesta quarta-feira (14/1) a pequena igreja do Sri Lanka diante de um milhão de fiéis em Colombo, insistindo na liberdade de crença em um país atingido por tensões étnicas e interreligiosas.

A polícia da capital, que informou sobre um milhão de presentes, disse que se tratou da congregação mais importante reunida durante uma manifestação pública no país. Já o Vaticano contabilizou os presentes na missa em mais de 500.000. Pouco depois, o Papa visitou um templo budista, o que não estava previsto em seu programa.

No templo Baha Bohdy de Colombo, o Papa foi recebido pelo presidente desta organização budista internacional, Banagale Upathissa. O porta-voz do pontífice, Federico Lombardi, disse a jornalistas que Francisco desejava "expressar a sua amizade" com o budismo neste encontro que durou cerca de 20 minutos.

Durante esta reunião, o monge budista abriu uma estupa, um monumento funerário com relíquias de dois monges falecidos. O monge decidiu abrir a estupa por ocasião da visita do Papa, que tirou os sapatos no templo, no qual havia uma grande estátua de Buda. Normalmente, este monumento é aberto apenas uma vez ao ano.

Em Colombo, muito antes do amanhecer, uma multidão de jovens se dirigiu a Galle Face Green, protegido por um importante dispositivo policial e por soldados, para poder ver, saudar e rezar com o primeiro Papa procedente do hemisfério sul.

Provenientes de todos os cantos da ilha, alguns carregavam colchões e mantimentos prevendo uma longa espera. Em sua maioria eram católicos, mas também havia budistas. A missa foi o ponto alto de uma visita de dois dias ao Sri Lanka, vinte anos após a de João Paulo II. Foi transmitida por telões e difundida pelas principais televisões.

O primeiro santo cingalês

Pela primeira vez nesta nação de 20 milhões de habitantes, os 7% de católicos, presentes entre as etnias cingalesa e tâmil, terão um santo: Joseph Vaz, missionário proveniente da Índia no século XVII e venerado por sua ajuda aos pobres e doentes de todas as comunidades.

[SAIBAMAIS]O papa argentino lembrou, ao canonizá-lo nesta quarta-feira (14/1), a vida deste missionário, que se vestia como um mendigo para se misturar aos católicos perseguidos e que recebeu o apoio do rei budista.

Joseph Vaz serviu aos habitantes do Sri Lanka "sem distinção" e seguindo seu exemplo a Igreja "não faz distinção entre raças, credos, pertencimentos tribais, condições sociais ou religiões", disse o Papa. "A liberdade religiosa é um direito humano fundamental", disse, em um contexto de crescente violência religiosa no Sri Lanka.

Grupos nacionalistas budistas atacaram recentemente mesquitas e igrejas para denunciar a influência, segundo eles injustificada, destas minorias. Alguns cristãos são mal vistos porque apoiam a realização de investigações estrangeiras sobre os crimes do exército do Sri Lanka contra os tamis durante a guerra civil que terminou em 2009.

Intimidações e coações

"Todo indivíduo deve ser livre, sozinho ou associado a outros, para buscar a verdade, expressar abertamente suas convicções religiosas, livre de intimidações e de coações exteriores", insistiu o Papa. A Ilha segue dividida entre a maioria cingalesa e a minoria tamil seis anos depois da repressão brutal da rebelião dos Tigres tamis pelo exército.

Em um discurso, o cardeal de Colombo, Malcolm Ranjith - da maioria cingalesa -, agradeceu ao Papa por ter ido reconfortar um país que "derramou tantas lágrimas" na recente guerra que "esgotou nossos recursos".



"Pedimos que nos ajudem a pedir perdão mutuamente pela violência insensata, para esquecer e perdoar e para alcançar um processo que possa construir pontes entre as partes feridas pelo conflito. Mas estamos muito distantes deste objetivo", constatou. Srimathi Fernando, de 54 anos, disse à AFP que foi à missa para receber a bênção pessoal do Papa. Havia levado a foto de seu marido, que se recupera depois de ter sofrido um infarto.

Outra mãe de 48 anos também compareceu para receber a bênção para seu filho de 19 anos, condenado a três anos de prisão por tráfico de drogas. "Meu filho estragou sua vida, mas com uma bênção papal certamente poderá virar uma nova página", disse, mostrando a foto do menino quando ainda era um bebê.

As autoridades decretaram feriado nesta quarta-feira. Cerca de 21.000 membros das forças de ordem foram mobilizados. Francisco, que iniciou sua visita na terça-feira (13/1), viajará pela tarde de helicóptero ao santuário de Madhu, em uma região tamil muito marcada pela guerra civil.

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