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Sobrevivente relata momentos de terror durante ataque do Boko Haram

Mohammad mai Kifi fala do pânico e da tristeza ao ver execuções de moradores

Rodrigo Craveiro
postado em 15/01/2015 07:45
Casas incendiadas na cidade de Baga, após combates em abril de 2013

O pescador Mohammad mai Kifi está sozinho e traumatizado, refugiado em Mauduguri, no noroeste da Nigéria. Todos os familiares morreram quando o grupo extremista islâmico Boko Haram chegou à cidade de Baga, a 160km dali, na fronteira com o Chade. ;Eles atiraram a esmo nas casas. Entraram, vasculharam todos os aposentos e executaram os moradores. Os terroristas carregavam grandes armas, como lança-foguetes, e usaram ao menos três carros blindados durante a invasão;, contou ao Correio, por telefone, o sobrevivente do maior massacre promovido pelo Boko Haram. ;Eu vi gente morta aos punhados. Todas as casas de minha cidade foram incendiadas.; A organização não governamental Anistia Internacional denunciou a morte de 2 mil pessoas na ofensiva extremista e divulgou imagens de satélite que indicam a destruição de 3,7 mil estruturas.

[SAIBAMAIS]De acordo com Mohammad, o Boko Haram cercou Baga antes da invasão e começou a matar quem se arriscava na fuga. ;Eles atiraram em mim e corri com minhas próprias pernas;, disse. ;Os extremistas atacaram aos punhados, durante a madrugada, entre as 3h e as 4h da madrugada de 3 de janeiro.; A carnificina prosseguiu por cerca de 96 horas. O pescador admitiu não saber a razão pela qual o mundo não se une para salvar seu país. ;Queremos que todos venham e nos ajudem. Somente nós, nigerianos, falamos sobre o que acontece por aqui. É algo muito vergonhoso. Precisamos de ajuda.;



O Correio também conversou com o ativista de direitos humanos Ahmadu Jirgi, natural de Maiduguri e morador de Abuja. Ele relatou a história de Zainab Adamu, 24 anos, casada e mãe de quatro crianças, inclusive um bebê. A nigeriana e três filhos buscaram abrigo na casa dos tios do ativista. Segundo Ahmadu, assim que escutou os primeiros tiros, ela e a família tentaram correr sem rumo até chegarem ao Lago Chade. No desespero, algumas pessoas se lançaram nas águas e se afogaram. ;Ela carregava o bebê, enquanto o marido segurava outro filho. As outras duas crianças corriam a uma certa distância dos pais. Zainab me contou que podia ver os guerrilheiros dirigindo atrás deles e disparando aleatoriamente, além de pessoas tombarem mortas. O seu marido caiu, ela correu para ajudar, mas ele e o menino já estavam mortos. Ela tentou acordar a criança e um homem a arrastou dali. Caminharam por uns 100km até serem resgatados.;

Ontem, o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan defendeu o enfrentamento do Boko Haram para que valores como a tolerância e o pluralismo sejam protegidos da ;insurgência bárbara;. Por sua vez, o Itamaraty divulgou nota na qual ;reitera seu repúdio, nos mais fortes termos, a todo e qualquer ato de terrorismo e manifesta a solidariedade fraterna do povo brasileiro ao povo irmão e ao governo da Nigéria;.

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